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Rubel

Tenho perdido todos os concertos. Sou aquele infeliz cujos compromissos matam as grandes festas. A agenda nunca me favorece, sou azarado da coincidência. Perdi os concertos do Rubel e todos me falam de terem sido uma maravilha como se eu fosse culpado de alguma maldade. Há um requinte em quem mo conta igual à lâmina que nos corta.

Há uns anos, o meu amigo Alexandre foi quem me falou primeiro do Rubel. É importante mencionar que foi o Alexandre porque ele é um enjoado que não adere a nada. Virou daqueles burros velhos que repete os punks dos anos de 1980, mas refila contra tudo que tenha maior juventude. Por isso, que subitamente se apaixonasse pelo Rubel era algo que não podia ser ignorado. Corri a ouvir e a entender. Era, concretamente, a melhor revelação brasileira possível.

Um dia, o Rubel veio assistir a uma apresentação minha no Museu do Amanhã. Queria que o Alexandre tivesse um olho de Deus sobre a plateia para me ajudar a acreditar naquele acaso de o cantor de que gostávamos ter interesse no que escrevo. Eu não curo o meu feitio de forasteiro, de alguém que visita mas não se sente incluído. Sinto uma intensa distância dos sonhos, mesmo quando os tenho diante.

O espírito fez de mim um escritor, o meu ideal seria, contudo, o da música. Não porque me visse num palco a pular e passear roupas exuberantes. Eu fico fascinado com essa abstractíssima arte de encantar apenas com o som, mesmo sem palavras. Ouço tanta gente em línguas que não entendo e a música é inteira. Seria como fazer o poema pela melodia pura, como pode ser Elizabeth Fraser, por exemplo. É o poema puro, aquele que diz sem precisar da palavra, mas é língua, um idioma de si mesmo, uma revelação.

Depois, o Rubel publicou "Beleza" e diz o meu nome numa das canções. O meu nome no verso do seu poema como se fosse bom para o som, para a melodia, para a língua. Que retumbante acontecimento. Não sei nem o que dizer. Meu nome numa canção de um disco incrível de um cantor incrível. Usado igual ao ouro de pensar, ao ouro de ouvir. Há uma canção chamada "Ouro", eu tinha de o esclarecer: melhor canção do ano. Charme e poesia, melancolia e celebração. Por causa de tudo isto, habito na Lua. Não sou mais terráqueo. Eu, agora, por causa de Rubel, sou da Lua com sinceridade.

Valter Hugo Mãe