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Fernando Santos está a operar um pequeno milagre, na Grécia. O treinador português pegou num AEK à beira da falência. Com pouco dinheiro, contratou jogadores a equipas modestas e, a três jornadas do fim, está a um ponto do título de campeão, quando apenas lhe pediram que construísse um grupo para o futuro. A equipa ateniense, onde jogam Bruno Alves e Paulo Assunção, emprestados pelo F. C. Porto, chegou às meias-finais da Taça. Perdeu, a duas mãos, com o Olympiakos, num segundo jogo, fora, com a mão do árbitro, que expulsou três jogadores, o adjunto Velic e o próprio treinador português.
[Jornal de Notícias] Que consequências tira da forma como o AEK foi eliminado na Taça da Grécia?
[Fernando Santos] Não quero entrar em polémicas. Fui mandado embora do banco sem saber porquê. Não me lembrava de um jogo assim desde o Bayern-F. C. Porto. Houve uma dualidade de critérios gritante. O importante é realçar o trabalho extraordinário dos jogadores. No ano zero de formação de uma equipa, cuja maioria dos atletas nunca esteve envolvida em qualquer tipo de luta por um título, é extraordinário chegar ao fim da época envolvido em duas frentes. Com alguma justiça, estaríamos na final da Taça.
Como reagiram os jogadores a esta eliminação?
Quando perdemos, 1-0, em casa, na primeira mão, toda a gente achava que estava tudo acabado. Fomos ao terreno do Olympiakos e os jogadores souberam dar a resposta a isso. Jogámos 35 minutos só com dez e só não ganhámos porque o árbitro entendeu não validar dois lances de golo, ainda durante o tempo regulamentar. Foi decepcionante perder assim.
Além do jogo, perdeu, ainda, por expulsão, Bruno Alves, Assunção e Júlio César. Isso acaba com as contas do título?
De maneira nenhuma. Temos um plantel curto, mas já passámos por uma situação destas no fim da primeira volta. Vamos lutar para vencer os três jogos que faltam.
Como reage a Direcção à situação de estar na luta pelo título, quando pedia, apenas, uma época tranquila?
Mais do que a Direcção, os adeptos esperavam que o AEK fosse uma equipa com problemas esta época. Começámos a temporada com grandes dificuldades económicas e com uma equipa nova, com 90% de jogadores contratados em clubes de dimensão inferior. Por isso, há muita felicidade entre os adeptos do AEK e estupefacção dos outros. Há um prémio de apuramento para a Europa, o que diz muito sobre as expectativas da Direcção, no início da época. Isso já está conseguido. Agora, é lutar pela vitória em cada jogo.
Sem dinheiro, com muitos jogadores novos e inexperientes, fez uma equipa e luta pelo título. Como?
Não há mistério algum. Há trabalho e mérito dos jogadores, que acreditaram que era possível fazer algo, depois de dois meses de pré-temporada muito difíceis. A situação económica do AEK deu oportunidade a muitos jogadores de representar esta equipa, algo que, se calhar, não seria possível noutra situação. A razão do sucesso é que os jogadores quiseram aproveitar a oportunidade. Depois, há uma relação de confiança, de parte a parte, que tem sido fundamental, particularmente nos momentos difíceis.
Neste momento, não ser campeão seria uma frustração?
Os objectivos já estão conseguidos. Passavam por estabilizar a equipa e conseguir o apuramento para uma competição europeia, por isso não seria uma grande frustração, embora perder seja sempre decepcionante. Os jogadores, pelo trabalho que têm feito, merecem, mais do que os de qualquer outro clube, o prémio de serem campeões.
Se no início da época lhe dissessem que, nesta altura, estaria nesta posição, acreditaria?
Teria dificuldade em dizer que sim. Sentia que poderíamos construir uma equipa forte e coesa e que teríamos mais vitórias do que derrotas. Agora, que estaríamos a lutar até ao fim nas duas frentes, dependendo só de nós no campeonato, estava fora de hipótese pensar isso.
Acredita que é possível vencer em casa do Panathinaikos?
Claro sim. Vai ser o jogo do tudo ou nada. Não temos nada a perder e temos muito a ganhar. Esse jogo é decisivo. Se vencermos, não tenho dúvidas de que seremos campeões, até porque dos três jogos que faltam dois são em casa. Com 50 mil pessoas a apoiar, temos condições para vencer qualquer adversário. O apoio dos nossos adeptos é fantástico e tem crescido imenso. Segundo as estatísticas, o número de espectadores aumentou 1350% esta época.
O seu futuro passa por onde?
Tenho mais um ano de contrato e garanto que o vou cumprir. Depois, não se sabe. É futebol.
Segundo as estatísticas, número de especatores cresceu 1350%