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Omegaprojecto da Associação Empresarial de Portugal (AEP) para os terrenos da Exponor, em Matosinhos, e para o Europarque, em Santa Maria da Feira, pode ter naufragado. A promotora holandesa TCN, que ia suportar a maior parte do investimento, abandonou o barco, depois de uma tempestade de acusações entre os responsáveis das duas entidades. Na hora da rescisão do contrato, a AEP pagou para ficar com os projectos, mas ficou sem um investidor que lhes garanta um porto seguro.
Os dois empreendimentos, cuja execução pressupunha um investimento de 850 milhões de euros, foram anunciados com pompa e circunstância, em Setembro do ano passado. O projecto recebeu a classificação de PIN (Projecto de Interesse Nacional) e foram prometidos 3500 empregos. Mais de um ano depois, e com muita turbulência pelo meio, restam os papéis em cima da mesa de Ludgero Marques. Mas o líder da AEP insiste e garante que a associação "vai avançar sozinha" com os projectos que sonhou. As palavras do empresário colhem esperança, mas também muitas dúvidas.
O presidente da Câmara de Matosinhos vê com bons olhos a intenção da AEP e continua a insistir que "o projecto tem de ser materializado". Guilherme Pinto nem quer pensar na possibilidade de o plano ter de ser alterado para se ajustar aos eventuais interesses de um novo parceiro, o que pode, inclusive, obrigar a reavaliar a classificação PIN. "Isso não está em cima da mesa", responde, garantindo que continuará atento à evolução do processo. "Não tenho por que duvidar das intenções da AEP. O engenheiro Ludgero Marques não pode estar a brincar, é muito dinheiro". Se o presidente da Câmara fica "satisfeito com a manifestação de vontade da AEP", a Oposição na Autarquia pede esclarecimentos urgentes. Quem não se arrepende de não ter participado no projecto é Narciso Miranda.
Narciso reclama razão
"Está provado que tive razão antes do tempo. O processo faliu, tal como previa", sentencia o ex-presidente da Câmara de Matosinhos, que recusou, em 2005, um convite da AEP para acompanhar o processo. Agora, "é preciso que as entidades oficiais que deram a benção ao projecto, a nível governamental e autárquico, venham explicar o que aconteceu. Impõe-se esse esclarecimento para que não subsistam dúvidas".
Muitas dúvidas e críticas
Dúvidas não faltam a João Sá, vereador do PSD na Autarquia de Matosinhos. "Como vai avançar? Vai haver alterações ao projecto? Que alterações?", questiona, sem saber como será preenchida a mais-valia do "knowhow"que a TCN emprestava ao projecto. O social-democrata deposita alguma confiança nas palavras de Ludgero Marques - "se diz que vai avançar é porque deve tê-lo como viável" -, mas exige esclarecimentos rápidos da autarquia. "A Câmara tem sido mais reactiva do que indutora do crescimento económico do concelho".
"Experiência falhada", classifica, por sua vez, o comunista Honório Novo, considerando que, agora, sem a TCN, o projecto perdeu toda a credibilidade que lhe restava. "O rei vai nu, tal como sempre foi", acusa, salientando que, depois da rescisão entre as duas entidades, a Câmara já não tem como defender o projecto, a que a CDU sempre se opôs. "Ao menos já não precisa de lá pôr o Centro de Tecnologias do Mar", ironizou, referindo-se à nova localização do equipamento, em Matosinhos-Sul.
O fim anunciado da nova Exponor começou a desenhar-se em Janeiro, depois do presidente da TCN ter vindo a público acusar Ludgero Marques de, "à revelia" da promotora, querer instalar uma fábrica de painéis solares, da qual é administrador, nos terrenos do Europarque, em Santa Maria da Feira. O verniz estalou e o brilho inicial perdeu-se.
Nem a TCN nem a AEP quiseram comentar o assunto. O Ministério da Economia e Inovação também não se pronunciou em tempo útil.
Três funcionalidades
O projecto da Exponor XXI, em Leça da Palmeira, dividi-se em três áreas Pólo Tecnológico; Nova Exponor e Zonas Económicas. Na primeira, ficariam pólos de investigação tecnológica, uma incubadora de empresas, uma residência para estudantes e um centro de tecnologias do mar (que, entretanto, já "migrou" para Matosinhos-Sul). Para a segunda, estava previsto o desenvolvimento de sinergias inter-empresas e nas zonas económicas ficariam espaços para o comércio grossista.
Aposta maior na Feira
A reconversão da actual Exponor, em Leça, está orçada em 300 milhões de euros. Na Feira, o alargamento do Europarque para acolher exposições e feiras, pólos de investigação, hotelaria, habitação, lazer e saúde pressupõe um investimento de mais de 500 milhões de euros.