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A violência nas escolas tem aumentado e não se resume a actos de agressão física. São também as humilhações, as cenas de intimidação e de provocação e a exclusão do grupo de colegas. Os rapazes envolvem-se mais neste tipo de situações e, se até aos 13 anos, estes adolescentes são, por norma, provocadores ou vítimas, há o risco de a partir dos 15 anos passarem a agressores, com mais probabilidades de recorrerem ao uso de armas.
É o que revela o estudo feito em 2002, pelo projecto Aventura Social e Saúde, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, a 6131 estudantes do 6.º, 8.º e 10.º anos de todo o país. O documento será a base da alocução que a psicóloga Margarida Matos fará depois de amanhã, em Segóvia (Espanha), no congresso luso-espanhol de docentes, em representação da Associação Nacional de Professores.
Segundo o mesmo inquérito, o pico de envolvimento em actos violentos ocorre aos 13 anos e desde 1998 - ano da elaboração do último estudo - regista-se "um aumento das provocações" e da "frequência de lesões, lutas e uso de armas, embora estes comportamentos se refiram sempre a uma minoria de adolescentes".
Os adolescentes que agridem ou são agredidos - física, verbal ou gestualmente - tendem "a um afastamento em relação à casa, à família e à escola".
Agressores e vítimas
Os provocadores, normalmente, têm um grupo de amigos com o qual se encontram fora da escola, inclusive à noite, são mais susceptíveis de já terem consumido tabaco, álcool e drogas e de terem participado em rixas com armas e referem ver televisão quatro ou mais horas por dia .
No grupo das vítimas estão os jovens que afirmam não serem felizes e não se sentirem seguros na escola, da qual não gostam. Têm problemas em estabelecer relações sociais e, por isso, têm dificuldade em fazer amigos. Aliás, muitos referem não os ter.
Para Margarida Matos - que, em Segóvia, falará sobre os conflitos na escola -, a preocupação é hoje maior porque "estamos mais informados e porque os efeitos da violência têm um impacto mais imediato".
Para esta especialista, há três factores que podem levar a actos de violência. Nos individuais, é preciso considerar a impulsividade, a hiperactividade, a baixa auto-estima, distúrbios ao nível da atenção, falta de autocontrolo e baixa realização nos estudos.
Decisiva é também a relação com os professores, os colegas e a família - se é nuclear (pais vivem juntos), monoparental (só vive com um dos pais) ou recomposta (se o pai ou mãe, com quem vive, criou uma nova família).
Os jovens que não vivem com ambos os pais envolvem-se mais em casos de humilhação, abuso e insinuações. Como autores. Bem como os que reconhecem ter dificuldade em falar com a mãe ou o pai sobre aquilo que os preocupa. Mas os jovens que não têm pai ou raramente o vêem, são quase sempre, vítimas.