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Quando a dupla maravilha, Júlio Magalhães e Marisa Cruz, no próximo dia 7 de Julho, começar a apresentar (e a abrilhantar) a primeira parte nacional do grande espectáculo das 7 novas maravilhas do Mundo, eu estarei colado à TVI a torcer pela Torre dos Clérigos e pela Igreja de S. Francisco.
São estas as duas maravilhas do Porto consideradas com "pedigree" e antiguidade suficiente para integrar o rol das propostas portuguesas.
Com este pretexto e antecipando um pouco a inescapável "silly season", aproveito para propor desde já as 7 maravilhas do Porto que poderão fazer parte do programa de? 2077.
Talvez daqui a 70 anos o júri nacional da altura seja capaz de perceber o que para mim e para muitos portuenses é já uma perfeita evidência.
Maravilha 1 - Serralves. Serralves toda. O Museu, a Casa, o Jardim, a Fundação. Mas ainda o meu querido e adorado Plantoir. Sem esquecer o exemplo num país que está todos os dias a transformar em milionários os reformados das administrações de várias empresas públicas, enquanto sela urgências e fecha escolas, ter uma fundação que faz o que faz graças ao dinheiro privado que potencia o investimento público é um exemplo de boa gestão para todo o Portugal. Eis uma maravilha de poupança.
Maravilha 2 - Casa da Música. Desde os tempos de Nasoni e Eiffel que o Porto se habituou a navegar na vanguarda das ideias, indo buscar o talento onde ele está, independentemente da raça, credo ou nacionalidade. Os resultados estão à vista e a Casa da Música é só o mais recente. Daqui a 70 anos, já ninguém se lembra de onde vieram as mármores, nem daquele político pequenino que embirrou com os elevadores. A música vai torná-la universal e a sua arquitectura uma referência cultural obrigatória. Eis uma maravilha de obra.
Maravilha 3 - O Estádio do Dragão. Suspeito que, em 2077, já tenha outro nome mais picante, mas esta proeza de Manuel Salgado dá razão ao que dizia um conceituado padre aos microfones da TSF dantes, os países edificavam igrejas, hoje constroem estádios. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Eis uma maravilha da vontade.
Maravilha 4 - O Parque da Cidade. Se há sítio onde o Porto anda e corre, é lá. Claro que também existem as corridas do Circuito da Boavista que o vão cercar na primeira quinzena de Julho, mas é naquela sagrada zona verde que metade do Porto mantém a forma à semana e se espreguiça ao domingo. O custo da operação ainda não está apurado, mas ter subtraído aquele imenso espaço ao apetite imobiliário é uma maravilha. Eis uma maravilha de risco.
Maravilha 5 - O Metro. Sendo mais de superfície que outros, também é mais transparente. Provavelmente, é por isso que lá não se enterraram tantos milhões como nos subterrâneos do Terreiro do Paço. Metro a metro, daqui a 70 anos, há-de ter os quilómetros que tornarão uma maravilha circular em transportes públicos na Área Metropolitana do Porto. Eis uma maravilha ambulante.
Maravilha 6 - A vista da Ribeira. Espero que não sejam precisos 70 anos para que Vila Nova de Gaia seja capaz de mudar a vista que tem quem se senta a beber um cálice de "Vintage" ao lado do Cubo da Ribeira. Os projectos de Menezes e Marco António são estimulantes e prometedores. Mas, se acontecer algum imprevisto, sempre poderemos mudar o ângulo de visão. O turista dá alguns passos em frente, olha para a sua direita e alcança a Foz do Douro. Claro que estou a dar de barato que os novos molhes dos Irmãos Cavaco não vão borrar a pintura. Eis uma maravilha de vista.
Maravilha 7 - A Rotunda da Anémona. Aí está uma daquelas obras de arte pública que dificilmente conseguem o consenso da geração em que são feitas. Eu já gosto, mas admito que vai ser mais fácil para quem se habituar a ela de nascença. Aliás, daqui a 70 anos, presumo que também já ninguém terá problemas em considerar esta zona de Matosinhos parte integrante do Grande Porto. Eis uma maravilha a prazo.
Manuel Serrão escreve no JN, semanalmente, às quartas-feiras