Cascais: Primeiro farol-museu desvenda ofício com cinco séculos e proporciona "viagem fantástica"
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Cascais, 26 Jul (Lusa) - O Farol de Santa Marta, em Cascais, torna-se sexta-feira o primeiro farol-museu nacional, um projecto do Estado Maior da Armada Portuguesa e da autarquia que irá desvendar um ofício com cinco séculos de história no país.
Inserido no Forte de Santa Marta, cuja construção deverá remontar ao século XVII, o farol foi inaugurado em Março de 1868 e classificado como Imóvel de Interesse Público em 1977, sendo uma referência na sinalização costeira da barra do Tejo.
No ano passado, a Câmara de Cascais e a Marinha, que ainda hoje apoia a navegação a partir da torre de 20 metros, iniciaram a remodelação do espaço para dar a conhecer as antigas residências dos faroleiros, os seus instrumentos de trabalho e modo de vida.
O resultado do investimento - 1,5 milhões de euros provenientes da Comissão de Obras do Jogo do Estoril - é um espaço de exposição de peças recuperadas pela Marinha, amplas plataformas com vista para o mar, um centro de documentação e uma cafetaria a serem inaugurados sexta-feira.
"Tentamos encontrar formas de não ser só um museu 'de sítio', mas onde a temática dos faróis, que fazem parte do imaginário, estivesse presente, até porque Portugal preserva um conjunto de faróis de excepcional importância do ponto de vista patrimonial e arquitectónico", disse à Lusa o historiador Joaquim Boiça, director do novo espaço e descendente de uma família de faroleiros que trabalhou em Santa Marta.
"Além de suportes fundamentais do comércio marítimo, os faróis foram espaços de grandes avanços tecnológicos, a nível da produção de energia ou da óptica, com muitos físicos dos séculos XVIII e XIX a participarem nesta aventura de iluminar os mares", explicou.
Entre as peças em exposição, cujo simbolismo é reforçado pela "espessura história" do edifício, encontram-se o candeeiro primitivo de Santa Marta e um dos seus livros de registo de 1970, onde é descrito um naufrágio, um painel da óptica do farol das Berlengas (um dos maiores do mundo, com 3,20 metros de altura) e o relatório de um português que participou na Exposição Universal de Paris de 1867 e descreve "em êxtase" a precisão matemática da revolução da óptica motivada pelos faróis.
O público pode ainda assistir a uma "fantástica viagem" de quatro minutos, através de uma reconstituição virtual do farol que, segundo Joaquim Boiça, vai surpreender, e ainda a um documentario intitulado "Faróis de Portugal, cinco séculos de história".
Para o historiador, a criação do farol-museu será também uma forma de acabar com a ideia de que o faroleiro é um simples guarda, mas antes um profissional com muitos ofícios.
"São mecânicos, pintores, serralheiros, electricistas e por aí fora, porque têm de dar resposta a todo o tipo de situações. Lembro-me, por exemplo, de o meu pai fabricar peças para motores de barcos", conta.
O Museu-Farol de Santa Marta, projectado pelos arquitectos Francisco Aires Mateus e Manuel Aires Mateus, estará aberto das 10:00 às 19:00 entre 01 de Maio de 30 de Setembro, fechando uma hora mais cedo nos restantes meses.
RYC.
Lusa/fim