Corpo do artigo
O constrangimento narrativo é responsável pelo quase-falhanço artístico do novo Shrek. A obrigação de meter dentro do aperto da família tradicional um ser cujo interesse dramático residia na sua possibilidade errática permanente (total mobilidade, alforria horária, soltura generalizada) compromete a fita (houve mesmo sete argumentistas?!). Se a narrativa tem espartilhos, a realização é frouxa falta a Chris Miller a qualidade leve de espírito levemente retorcido que tem Andrew Adamson, cineasta que escreveu e realizou o primeiro e ganhou o Oscar no segundo. Claramente dirigida a público jovem e não ao adulto adepto da animação que espelha a vida , "Shrek" desce a fasquia para não ferir susceptibilidades. Abraça a política correcta e concede mais espaço à Mulher (o fim é uma demonstração de 'girrl power' com a Sra. Shrek em busca do marido, armada de amigas que anseiam liberdade: Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida. Mas também isso está em segundo plano. Resta o pequeno contentamento das figuras menores (pena que assim permaneçam): o destravado Pinóquio, leal até nas fraquezas nasais; os três decididíssimos porcos de eficiência germânica; e o trio de ratos cegos swingers. O resto é bocejo: árvores malévolas torpes, um ciclope que envergonharia Homero, e o desaproveitado Capitão Gancho (voz de Ian McShane, estiloso taberneiro de "Deadwood"). Eco aos Táxi e à sua percepção elástica da realidade pop: Shrek é já pouco mais do que mastiga e deita fora. JMG