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Lisboa, 07 Mai (Lusa) -- O general Pezarat Correia considerou hoje Humberto Delgado, candidato da oposição às presidenciais de 1958 assassinado pela PIDE, "um precursor do 25 de Abril", o golpe que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano em 1974.
A afirmação de Pedro Pezarat Correia, ele próprio um ex-militar de Abril, foi feita na apresentação do livro "Humberto Delgado -- Biografia do General Sem Medo", do neto do general, Frederico Delgado Rosa, e que marcou o início das comemorações das eleições presidenciais de 1958.
O Átrio Principal do Palácio de São Bento encheu-se hoje, ao fim da tarde, de deputados, incluindo o presidente da Assembleia, Jaime Gama, amigos do general e outras personalidades para homenagear o homem que desafiou a ditadura e foi morto pela polícia política.
"Foi um precursor do 25 de Abril, o dos capitães e não dos generais que lhe deram seguimento" depois do golpe, disse Pezarat Correia, lembrando que, na década de 50, Humberto Delgado defendeu que o regime de Salazar só cairia "através de uma acção militar", por oposição à ideia do PCP de "um levantamento popular, a prazo".
Pezarat lembrou uma frase do general: "Eles querem esperar, eu quero lutar".
Olhar diferente tem a jornalista da RTP Judite de Sousa, que apresentou o livro com Pezarat Correia.
"Se o general fosse vivo", admitiu, seria "adorado pelas televisões" por saber escolher "frases curtas e incisivas" -- os "sound bytes" -- de que a histórica frase "Obviamente demito-o" é um exemplo, referindo-se a Salazar.
Cinquenta anos depois, lembrou Judite, o ex-jogador Yuri Gasparov que lançou uma candidatura às presidenciais russas usou a mesma frase... quanto a Vladimir Putin.
Tanto Judite de Sousa como Pezarat Correia referiram-se ao julgamento dos responsáveis pela morte de Humberto Delgado.
Pezarat Correia afirmou que esse processo, que terminou em 1981, cinco anos após a "Revolução dos Cravos", "foi uma nódoa" do regime saído do 25 de Abril.
"Salazar soube e sancionou a missão criminosa" da PIDE que levou à morte do general, em 1965.
O livro, com mais de 1.200 páginas, é da autoria do neto do "general sem medo" que apresentou o avô como "o grande contraponto, simbólico e histórico, à figura sibilina do ditador Oliveira Salazar".
A obra, editada pela Esfera dos Livros, desafia a tese oficial de que Delgado foi assassinado a tiro, afirmando que morreu por espancamento.
A cerimónia prolongou-se por mais de uma hora, com discursos da filha do general, Iva Delgado, também presidente da Fundação Humberto Delgado, com a leitura de longos excertos do livro por Alexandra Lencastre e a actuação do coro da Câmara de Lisboa, com duas canções revolucionárias, de Luís de Freitas Branco.
Nas primeiras filas, além de Jaime Gama, estavam deputados como Alberto Martins, líder parlamentar do PS, Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, e representantes de todos os grupos parlamentares.
NS.
Lusa/fim