Corpo do artigo
Dois irmãos adolescentes foram ontem engolidos por um mar revolto, com ondas de três a quatro metros de altura, numa zona sem vigilância, na praia Nova, Pedrógão, concelho de Leiria. Apesar das tentativas de salvamento por vários nadadores-salvadores, que acorreram ao local arriscando a própria vida, o resgate das vítimas não foi possível.
Uma terceira pessoa, um homem, de 20 anos, que terá tentado salvar os jovens, acabaria por ser resgatado. Nesta operação, um nadador-salvador ficou em estado de choque e outro ligeiramente ferido. Por mar, através de uma embarcação da Figueira da Foz, e por ar, com um Puma da Força Aérea, as buscas prolongaram-se até às 19.30 horas, sendo suspensas devido à falta de luz. Tudo perante os olhares curiosos de dezenas de pessoas.
Ainda não seriam 14 horas, quando Melanie, 13 anos, e Sebastien Silva, 18, resolveram brincar à beira-mar. A bandeira içada na zona concessionada da praia, a norte, estava vermelha. O mar estava muito bravo, com fortes correntes, o que é frequente nesta zona da costa, segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários de Leiria. Almeida Lopes considera mesmo que "esta praia não é para banhos". Os dois irmãos estavam na companhia da mãe e com uma outra criança, familiar.
Não se sabe se resolveram tomar banho ou se estavam apenas junto à água. Sabe-se que a luta com aquele mar enfurecido era desigual. Perderam. Mal se apercebeu do que estava a acontecer, o único nadador-salvador que se encontrava no areal, de 23 anos, atirou-se à água com uma bóia.
Teve-a nos braços
Conseguiu resgatar com vida uma terceira pessoa, que entretanto tentara salvar as vítimas, e chegou mesmo a ter a adolescente nos braços. Mas o cabo que sustentava a bóia partiu-se e Elias não a conseguiu salvar. Aliás, precisou de ajuda de um dos colegas que chegou ao local nesse instante, com uma mota de água, oriundo do Pedrógão.
A mãe, natural de Castanheira de Pera e residente em França, que assistiu a tudo sem nada poder fazer, ficou em estado de choque. Foi transportada ao Hospital de Leiria, acompanhada por uma psicóloga. A família encontrava-se a passar férias no parque de campismo do Pedrógão. Era onde, à hora do acidente, estaria o pai. De lágrimas nos olhos, manteve-se, durante toda a tarde, junto à praia. Não quis falar ao JN, mas deixou escapar que "não existe segurança" e que, naquela praia, "não é perceptível qual é a zona concessionada".
Neuza Magalhães, vereadora da Câmara de Leiria, esteve no local e garantiu aos jornalistas que "uma assistente social e duas psicólogas estão a dar o devido apoio à família".
De acordo com o comandante dos Bombeiros de Vieira de Leiria (Marinha Grande), Orlando Freitas, a tragédia aconteceu "por falta de civismo". As buscas prosseguem esta manhã.
* Com Alexandra Serôdio Luís Oliveira e Ana Fonseca