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Dez anos de observação e estudos sobre a evolução da orla costeira, entre o Furadouro e a praia de Mira, permitem concluir que o fenómeno da erosão continua a ser uma ameaça muito séria - e com tendência para se agravar, apesar da construção constante de esporões e molhes de protecção.
Cálculos desenvolvidos no Centro de Estudos de Ambiente e Mar, do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro (UA), mostram que a linha da costa recuou, em média, seis metros por ano. Com destaque para a zona da Vagueira/Areão, onde o recuo total, no período compreendido entre 1958 e 2002, totalizou 220 metros.
"A tendência é para uma erosão muito séria e para a continuação do recuo da linha da costa. Os rios trazem cada vez menos sedimentos até à foz. As correntes marítimas estão artificialmente desnutridas de sedimento e, se não têm o que depositar, dissipam a sua energia na erosão das praias e das dunas. Por outro lado, os molhes do porto de Aveiro, os esporões e enrocamentos acabam por ser armadilhas para o pouco sedimento disponível", sublinha a professora Cristina Bernardes.
"Ainda há dois anos, por ocasião do último temporal, houve um recuo de 15 metros em 72 horas, a sul do esporão do Areão, acabadinho de construir", exemplifica a investigadora do Grupo de Geologia Costeira, sustentando que os esporões "apenas resolvem o problema pontualmente", na medida em que "transferem o problema para sul".
Para a investigadora, os esporões são, ainda assim, um mal necessário, actual, na medida em que as soluções alternativas - como a transposição dos sedimentos acumulados a norte para a zona a sul, a realimentação artificial das praias e a manutenção dos diques arenosos que substituíram as dunas, com sedimentos de granolumetria adequada provenientes de dragagens da ria e não com areia s das próprias praias - exigem "forte vontade política e condições económicas" . O presidente da Câmara de Vagos, em cuja área foi construído o último esporão no litoral aveirense, o do Areão, concorda. Rui Cruz nota que já se sentiu alguma acumulação de areia a norte do esporão, mas continua a mostrar-se preocupado "e nquanto não for feita a transferência de inertes para o troço entre esporões, conforme previsto, o mar vai continuar a avançar".
Entretanto, continua a acumulação de areias no molhe norte do porto de Aveiro, pondo em risco a integridade do próprio molhe e a navegabilidade da barra, ameaçada de assoreamento. "Há uns anos foi prometida a retirada de 5 milhões de m3, mas não foi feito nada!", refere Luís Cacho, presidente da administração portuária.