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Tive oportunidade de conhecer melhor o dr. Pacheco Pereira e consolidar a opinião que tinha dele como um homem culto, inteligente e corajoso na última campanha eleitoral para as legislativas. Ele encabeçava a lista dos deputados do PSD do distrito do Porto onde eu ocupava um modesto 17º lugar.
A impressão que me causou na primeira reunião que promoveu com todos os candidatos a deputados da lista que liderava não podia ter sido pior. Foi frio, pouco simpático e para início de conversa disse mais ou menos isto "?meus caros amigos as eleições não se ganham na rua com o folclore das feiras e a oferta de autocolantes, esferográficas e bandeiras, as eleições ganham-se na Comunicação Social e para que não exista ruído na mensagem quero que fique claro que o porta-voz sou eu?"
Eu, como apoiante do dr. Rui Rio, tinha acabado de sair da campanha autárquica à Câmara do Porto em que as eleições tinham sido ganhas na rua, aliás, com a hostilidade de toda a Comunicação Social, fiquei pasma e pensei, este tipo está a delirar, vamos levar uma banhada.
Com o decorrer da campanha percebi que o posicionamento e o distanciamento inicialmente imposto pelo dr. Pacheco Pereira resultava mais do facto de ser um homem tímido, com manifesta falta de jeito para os contactos de rua, do que propriamente de qualquer tipo de autoconvencimento quanto à sua suposta superioridade intelectual que era acusado por alguns de cultivar.
Penso que o dr. Pacheco Pereira deu provas de grande coerência política, quer ao não ter aceite recandidatar-se ao Parlamento Europeu por não concordar com a apresentação de uma lista conjunta com o PP quer ao não ter aceite o lugar de embaixador da UNESCO por não concordar com o processo de indigitação do dr. Santana Lopes para primeiro-ministro.
Entendo também que o dr. Pacheco Pereira é um homem intelectualmente sério e que o seu apurado sentido crítico faz falta ao PSD porque agita e incomoda e faz pensar e estar atento.
Para mim, ser militante de um partido não significa ter necessariamente de estar sempre alinhado, a liberdade de pensar diferente é saudável e enriquecedora.
O que acabo de dizer não me impede, porém, de considerar que o dr. Pacheco Pereira se tem excedido nas críticas ao dr. Pedro Santana Lopes e ao novo Governo. Julgo que a partir do momento em que os órgãos próprios do partido o elegeram para líder e o sr. presidente da República o indigitou como primeiro-ministro temos todos, como cidadãos responsáveis, o dever democrático de respeitar essa escolha, de lhe conceder o benefício da dúvida e de, se não queremos colaborar, pelo menos esperar para ver.
2. O prof. Marcelo Rebelo de Sousa é reconhecidamente um grande professor de Direito e um comunicador nato.
Pessoalmente, apenas me cruzei com ele duas vezes, posso dizer que fiquei com a ideia de que é uma pessoa simpática e acessível.
Diz quem o conhece bem, que quem o não tem como amigo o melhor é também não o ter como inimigo.
Quanto ao prof. Marcelo comentador devo começar por dizer que acho democraticamente questionável a existência de um programa televisivo, é disso que se trata, em que semanas a fio uma pessoa "zurze" em directo e em "prime time" tudo e todos, dizendo o que lhe passa pela cabeça, sem que exista da parte dos visados o correspondente direito de resposta e contraditório.
As críticas deliberadamente mortíferas que sistematicamente dirige a certos inimigos de estimação fazem-no, do meu ponto de vista, aumentar as audiências mas perder credibilidade.
Atira indiscriminadamente em todas as direcções com um gozo que não consegue disfarçar, o que só lhe fica mal.
Não é selectivo nas análises, opina sempre sobre tudo e todos o que, necessariamente, por muito que se prepare, muitas vezes o há-de levar a falar do que não sabe e de quem não conhece.
Ainda recentemente, nos comentários que proferiu sobre o novo Governo, em 19 ministros foi incapaz de encontrar alguma coisa de positivo.
Verdadeiramente notável. Com amigos assim, o PSD não precisa de inimigos.
O perfil político, pensadamente demolidor, que recentemente traçou do dr. Pedro Santana Lopes teve claramente o propósito de o destruir aos olhos da opinião pública e isso é perverso e inadmissível.
Julgo que também na política a discussão de ideias se deve constituir como essência e fundamento de cultura mas só assim será se a base dessa discussão se centrar de facto em ideias e não em pessoas.
É urgente enobrecer a política e isso passa por ter maior tolerância democrática para com quem é e pensa diferente porque não há ninguém perfeito.
Ou será que há?
com amigos como marcelo rebelo de sousa o psd não precisa de inimigos