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"O que diz Molero", um romance de Dinis Machado lançado há 30 anos, vai ser representado no teatro D. Maria II, em Lisboa, a partir da próxima quinta-feira, sem qualquer adaptação literária, numa encenação que fez sucesso no Brasil.
Partindo de um livro que foi na altura em Portugal um "best seller", o encenador brasileiro Aderbal Freire-Filho tornou-o "um romance-em-cena", um conceito que criou no início da década de 90 quando decidiu pôr em palco uma obra literária sem mudar uma palavra do texto original.
"O que diz Molero" é um diálogo entre duas personagens que lêem um relatório sobre um rapaz que nunca é referido pelo nome próprio.
Mas a peça, que será representada em Lisboa depois de dois anos em cena em várias cidades brasileiras e de ter sido também apresentada em Montevideu, no Uruguai, não é apenas a leitura em palco de um romance português feita por actores brasileiros, é um espectáculo teatral.
"O romance-em-cena só existe para dizer que o que está posto no palco não é a adaptação de um romance, é o próprio (romance)", explicou o encenador.
Aderbal Freire-Filho leu o livro de Dinis Machado há cerca de 25 anos. "Abri o livro e fiquei absolutamente deslumbrado com as primeiras págin as. Apaixonei-me pelo livro nessa época", disse à Lusa.
Muitos anos depois, em 2003, decidiu pô-lo em palco numa representação de cinco horas.
A peça estreou no Rio de Janeiro (foi o último espectáculo no teatro Ca sa Grande, que depois fechou) e teve sucesso. Em 2004 fez o circuito dos festivais brasileiros, foi apresentada em São Paulo, mas ao longo do tempo foi sofrendo alguns cortes de forma a reduzir a sua duração. "Fizemos uma versão para preguiçosos e pessoas que sofriam da coluna...", ironizou o encenador.
Quando voltou ao Rio de Janeiro, em 2005, a peça tinha pouco mais de duas horas, duração que vai manter no palco do D. Maria II.
Em 1994, a mesma obra, com adaptação teatral de Nuno Artur Silva e encenação de António Feio, foi representada por este e por José Pedro Gomes. A peça ganhou vários prémios.