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Os portugueses os europeus não vivem numa época de euforia, embora eu continue a pensar que há razões para ter confiança no futuro.
Vou tentar explicar as razões desta convicção no jornal da minha cidade - O JN - e vou fazê-lo em dois artigos. O de hoje, que relembra factos e reultados de um projecto único no Mundo e, um outro, que se seguirá na próxima semana, sobre os dez desafios, que considero mais urgentes vencer para, pelo menos, poderem ser atenuadas algumas tensões e preocupações sobre o futuro.
Em primeiro lugar há que ser lúcido, o que significa que temos de reconhecer que muitos cidadãos não acreditam que a Europa seja capaz de ultrapassar as dificuldades que atravessa e que surgiram como resultado dum mundo mais globalizado e com grandes preocupações em torno de ganhos de competitiuvidade.
Há um sentimento mais ou menos generalizado de preocupação e de angústia que se sente perante novas realidades que nos são impostas e para as quais os países europeus tem dificuldade em dar resposta.
Temos de aceitar que nós europeus não temos sabido conviver com a nova realidade chamada globalização. Mais do que vantagens e oportunidades, o que se sente é mais uma séria ameaça ao nosso bem estar. E isto é tanto assim que já não se assiste a uma onda de reinvindicações por mais garantias e mais direitos mas tão só a manutenção das coisas tal como estão.
Mas vamos um pouco ao passado e recordar a génese do projecto europeu.
A Europa viveu até meados do século passado em constantes lutas entre os seus povos, mas se bem repararem, nunca perante um inimigo exterior. As lutas foram sempre intestinas. Foi um longo tempo em que os diferentes povos da Europa se degladiavam, entre eles e sem cessar. E isto aconteceu até há bem pouco tempo, até meados do século passado.
Foi esta a terrível realidade que levou a que se sonhasse com a possibilidade de terminar de forma irreversível com esse ciclo, que fez sofrer milhões de famílias europeias. O projecto europeu não é assim mais do que a concretização desse sonho e o que de mais fundamental esteve na base desse projecto foi a procura da paz.
O objectivo da paz no seio da Europa foi conseguido com tamanho êxito que a actual geração nem sequer o valoriza de forma adequada, tal a estabilidade conseguida. Mas o que é certo é que uma vida vivida em paz e liberdade não tem preço e esse situação só foi consolidada porque houve este projecto europeu.
Mas o projecto europeu quis, e foi mais além. Quis passar da chamada europa mínima, como lhe chama Pacheco Pereira, para uma Europa mais integrada e mais alargada. Primeiro foram a Grécia, Espanha e Portugal, depois a Suécia, a Finlândia e a Dinamarca e mais tarde dez países de leste a que ze irão juntar no próximo ano a Bulgária e a Roménia.
Este processo de integração que não tem paralelo, nem noutra época, nem em nenhuma parte do Mundo porque se trata de uma integração não só política mas também económica.
Integração decidida em liberdade e onde cada um dos Estados membros renunciou a uma parte da sua soberania em nome do interesse geral. Integração que levou à construção de um império sem imperialismo. Integração que tem sido desenvolvida no respeito e até mesmo na valorização das diferenças culturais dos povos europeus. Integração feita em torno de valores fundamentais liberdade, democracia, justiça social, solidariedade, observância dos direitos humanos e respeito pelo Estado de Direito. Integração que conduziu a que a Europa seja hoje o maior parceiro comercial e o maior doador do Mundo. Integração esse que acolhe no seio da União Europeia milhões de europeus que durante décadas viveram o grande embuste da experiência comunista que significou o contrário do projecto europeu, porque aí nunca se viveu nem em liberdade, nem em prosperidade.
Mas o sucesso que representa o projecto de integração europeia não significa que não haja problemas, que exigem soluções. Só que, sinceramente pela minha parte, não trocaria os problemas que vivemos na Europa pelos problemas que outros vivem noutras partes do Mundo.
É disso que tratarei no próximo artigo.