Primeiro diretor criativo fora da família Versace, o italiano Dario Vitale apresentou em Milão uma coleção primavera/verão 2026 que revisita os anos 1970 e 80, sem os símbolos clássicos da Medusa. A proposta, porém, dividiu a crítica especializada.
Corpo do artigo
A Semana de Moda de Milão continua a somar novidades de monta, com a estreia de Dario Vitale, na sexta-feira, a marcar um dos momentos mais aguardados. O designer, que passou pela Bottega Veneta e foi head designer da Miu Miu, apresentou a coleção primavera/verão 2026 nas elegantes salas da Pinacoteca Ambrosiana, raramente abertas para desfiles.
Esta foi a primeira vez que a Versace se deixou guiar por alguém sem o apelido da família. A mudança coincide com a recente aquisição total da marca pelo grupo Prada, reforçando o caráter histórico do momento.
Longe do brilho habitual da Medusa, Vitale escolheu um ambiente intimista e afastado das celebridades que costumam ocupar a primeira fila. Inspirado nas primeiras coleções de Gianni Versace, dos anos 1970 e 80, recuperou blusões cintados, coletes de pele e vestidos de cetim bordados com padrões arlequim. Tops de alças com cortes laterais profundos e calçado de ganga azul Klein evocaram a irreverência dessa época.
Recurso ao arquivo em tempo de mudanças
A marca descreveu a proposta como "um mergulho nas fundações mais profundas de Versace", celebrando "um modo de viver livre, sem desculpas ou restrições". A sensualidade surge como fio condutor.
A coleção mistura alfaiataria, négligée, denim, pele e camisas estampadas, enfraquecendo o "dress code burguês" com uma "sensualidade desmedida". O classicismo choca com uma sensibilidade urbana: calças de ganga às riscas, blusões de couro com remendos, estampados vibrantes e vestidos metálicos reinterpretados com leveza.
Apesar do arrojo, a receção não foi unânime. Alguns críticos elogiaram o regresso às origens da casa e a energia contemporânea, enquanto outros consideraram a proposta excessivamente dependente do arquivo e comedida na inovação.
Nem Donatella Versace, antiga diretora criativa, nem Miuccia Prada e Patrizio Bertelli marcaram presença. Nada disso ofuscou o impacto: a estreia de Dario Vitale reforça a ambição da marca, mesmo que a crítica permaneça dividida sobre os caminhos a seguir.
A estreia de Vitale insere-se numa vaga de novas direções criativas que transforma a temporada num verdadeiro palco de expectativas. De Milão a Paris, várias casas de luxo passam por mudanças estratégicas.
Demna assume a Gucci depois de anos à frente da Balenciaga; Louise Trotter apresenta a primeira coleção para a Bottega Veneta; Jonathan Anderson estreia-se na Dior; Pierpaolo Piccioli leva o seu romantismo à Balenciaga; Miguel Castro Freitas assina a sua primeira coleção para a Mugler; Jack McCollough e Lazaro Hernandez, da Proenza Schouler, assumem a Loewe; e Matthieu Blazy estreia na Chanel após três anos de sucesso na Bottega Veneta.