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"Vila Faia" foi a prova
de que Portugal sabia fazer novelas
udam-se os tempos, mudam-se as novelas. Que o digam os telespectadores e sobretudo os actores que participaram em "Vila Faia", a primeira novela portuguesa que foi para o ar, na RTP, precisamente no dia 10 de Maio de 1982.
Na época, tudo era novo e arriscado. A comparação com as novelas brasileiras era inevitável. E a concorrência já tinha provado o profissionalismo dos seus mais directos intervenientes, da produção aos actores. "Gabriela, cravo e canela", uma adaptação de um romance de Jorge Amado, era disso um bom exemplo e os portugueses lembravam-se bem do impacto no nosso país.
Mas um grupo de pessoas ligado ao teatro pôs mãos à obra e avançou mesmo para a primeira novela nacional. Com um natural nervosismo, as gravações lá se foram fazendo, um pouco demoradas, mas como tudo era novo o ambiente acabaria por se tornar divertido. Fizeram-se a partir daí grandes amizades, criaram-se laços de profunda cumplicidade, independentemente dos actores serem veteranos, como Ruy de Carvalho, Mariana Rey Monteiro, Rosa Lobato de Faria e os novatos como Tozé Martinho e Nuno Homem de Sá, entre outros.
Nuno Homem de Sá, que actualmente interpreta o mafioso "Marco", na novela "Fala-me de amor", da TVI, contou, ao JN, que "Vila Faia" foi a sua "grande porta" de entrada no mundo televisivo (ver caixa).
"Foi a partir daí que eu cheguei mesmo à conclusão de que queria ser actor". Homem de Sá, na altura com 18 anos, fazia o papel de "Pedro" , "filho" de Ruy de Carvalho e Rosa Lobato de Faria. Ainda hoje se lembra do "bom ambiente" que reinava junto dos actores.
"Naquela novela nós metíamo-nos numa nau e lá íamos mar fora, porque tudo era desconhecido, era uma aventura. Hoje não há comparação, temos uma atmosfera muito mais profissional e com padrões a seguir", disse.
Ana Zanatti, uma das actrizes de "Vila Faia", acha que a maior diferença é que naquele tempo "havia mais tranquilidade durante as gravações, convivíamos mais, agora ninguém tem tempo, o ritmo do trabalho é muito mais acelerado. Temos menos tempo para os outros".
Zanatti gostou bastante de ter integrado aquele elenco e garante que todos "deram o seu melhor para que a novela resultasse. Apesar de ser um trabalho pioneiro, todos estávamos muito empenhados", sublinhou.
Tozé Martinho, actor, guionista e autor de várias novelas, reconhece que "Vila Faia" foi o princípio de tudo. Também ele um estreante nesse mundo da televisão (acabara de participar no programa "A visita da Cornélia"), admite que a novela serviu para mostrar aos próprios actores, à RTP e ao público em geral que em Portugal também era possível realizar novelas.
Recordando o ambiente de camaradagem que então ali se vivia, Tozé Martinho reconhece, por outro lado, ter havido uma grande evolução na área da produção das novelas.
O que mudou? "Quase tudo", diz o actor. "Agora as novelas evoluíram e ganharam sentimentos, ritmo e acutilância. Claro que para essas mudanças positivas contribuíram também os novos meios técnicos que estão ao dispor de todos os que nelas agora trabalham".