Arranca esta terça-feira o Festival de Cinema de Cannes. Não há portugueses na corrida à Palma de Ouro, mas, nas secções paralelas, encontramos filmes de Pedro Costa, João Salaviza, Rodrigo Areias e "Vale Abraão", de Manoel de Oliveira, que estreou há 30 anos.
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A edição 76 do Festival de Cannes, a mais importante manifestação do género em todo o mundo, começa esta terça-feira naquela cidade da costa mediterrânica francesa. É a primeira depois de ter sido oficializado o fim do estado de pandemia, que fez cancelar a edição de 2020 e passar a de 2021 para julho, em vez do tradicional mês de maio, mas vai decorrer numa França varrida desde há alguns meses pela forte contestação ao aumento previsto na idade mínima para a reforma.
Se algo de anormal vai ocorrer nos próximos 12 dias, e chegou a falar-se num corte geral de energia, certo é o caos que se verifica desde a última sexta-feira, com a abertura da bilheteira eletrónica, única forma de aceder a bilhetes para as diversas sessões, mesmo as reservadas à imprensa.
Indiferente a tudo isto, o festival arranca hoje, e com toda a força, com a exibição, fora de concurso, de "Jeanne du Barry", da atriz e realizadora francesa Maiwenn, nova versão da história da favorita do Rei Luís XV. A própria Maiwenn interpreta o papel central, ao lado do regressado Johnny Depp.
Seguir-se-ão os 21 filmes a concurso, onde vamos encontrar as novas obras de realizadores que já venceram a Palma de Ouro como o italiano Nanni Moretti, o japonês Kore-eda Hirokazu, o turco Nuri Bilge Ceylan, o alemão Wim Wenders e o britânico Ken Loach. O júri, presidido pelo mais recente bicampeão de Cannes, o sueco Rubem Ostlund ("O quadrado" e "Triângulo da tristeza), julgará ainda filmes de autores como Wes Anderson e Karim Ainouz, Aki Kaurismaki e Todd Haynes, Wang Bing ou Marco Bellocchio. Haverá ainda uma forte delegação de mulheres cineastas a concurso: Justine Triet, Ramata-Toulaye Sy, Jessica Hausner, Catherine Breillat, Alice Rohrwacher, Catherine Corsini, Kaouther Ben Hania.
Portugal está fora desde 2006
Num festival onde alguns dos filmes mais esperados serão exibidos fora de competição, como "Indiana Jones and the dial of destiny", primeiro filme da saga não dirigido por Steven Spielberg, que delegou a realização em James Mangold, ou "Killers of the flower moon", nova colaboração de Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio, o cinema português volta a estar ausente da corrida à Palma de Ouro - a última vez que Portugal concorreu foi já em 2006, com "Juventude em marcha", de Pedro Costa.
A ausência não está conforme nem com a vitalidade do cinema português, nem com a forma como a sua qualidade tem sido premiada noutros festivais da chamada "Classe A", como Berlim, Veneza ou Locarno. Trata-se, sobretudo, da incapacidade dos produtores portugueses em fazer lobby junto dos programadores de Cannes, que vão relegando a presença nacional para outras secções, importantes mas não tão mediáticas como a corrida à Palma.
Haverá no entanto cinema português para ver em Cannes. A dupla João Salaviza e Renée Nader Messora voltam à seção Un Certain Regard com novo filme realizado junto da comunidade brasileira dos índios Krahô, com "A flor do Buriti". Se for tão bom como "Chuva é cantoria na aldeia dos mortos", temos filme e temos certamente possibilidade de novo prémio.
Leonor Silveira em cartaz gigante
Momento importante para o cinema português é a Factory da agora designada Quinzena dos Cineastas. São três filmes curtos integrados no programa Norte de Portugal, produzidos pelo Bando à Parte, de Rodrigo Areias, e realizados por duplas de cineastas, sempre com um português e um estrangeiro: "Espinho", de André Guiomar e Mya Kaplan, "Maria", de Mário Macedo e Dornaz Hajiha e "As gaivotas cortam o céu", de Mariana Bártolo e Guillermo García Lopez.
A "madrinha" destes filmes é Leonor Silveira, cuja imagem surge num grande cartaz da Quinzena, da rodagem de "Vale Abraão", de Manoel de Oliveira, cujo 30.0 aniversário da estreia mundial será alvo de homenagem, com exibição de cópia nova. "Légua", de Filipa Reis e João Miller Guerra, tem também estreia marcada para a Quinzena.
Nas Sessões Especiais, onde há uma curta-metragem de Pedro Almodóvar, o western gay "Strange way of life", Pedro Costa regressa a Cannes, com a curta "As filhas do fogo". E na Semana da Crítica estará uma curta portuguesa, "Corpos cintilantes", de Inês Teixeira. No lado das coproduções com participação portuguesa, destaque para "Eureka", do argentino Lisandro Alonso, na secção Cannes Premiere.