"À espera de Godot", encenado pelo romeno-húngaro Gábor Tompa, presidente da União dos Teatros da Europa, estreia esta sexta-feira no Teatro Nacional de São João, no Porto. Peça fica em cena até dia 19 deste mês.
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"'À espera de Godot' é uma peça muito forte para o nosso tempo, mas também o foi para o tempo antigo", observa Gábor Tompa, encenador da peça de teatro, em conversa com o JN.
Esta tragicomédia em dois atos fez o nome de Samuel Beckett, autor do texto, ser catapultado para o mundo, tornando-o um dos pais do "Teatro do absurdo". O texto repete várias vezes a mesma frase, ensinando-nos o frustrante significado de nada e vazio.
Uma espera infinita por Godot, é isso que se perpetua na adaptação de Gábor Tompa, pois o resto encaixa-se com a constante mudança do mundo. O encenador defende que a peça "fala sobre a salvação de uma forma muito forte, precisa e até musical". E transporta consigo a solidariedade e a união, sem traições alimentadas por jogos superficiais.
O encenador romeno-húngaro acredita que a peça possui a complexidade de uma partitura, pois é fruto das diversas camadas que resultam do estilo próprio de Beckett.
As personagens principais, Vladimir e Estragon, passam por momentos difíceis e, "de certa forma, são o espelho das obras de Shakespeare, que joga "o mesmo jogo de tolos e palhaços".
Aquelas figuras são as últimas criaturas no mundo que Beckett imaginou e falam sobre toda a humanidade.
Na espera por Godot, que é tido como Deus, faz-se uma reflexão que Tompa traduz desta forma: "Precisamos de vez a luz no meio da escuridão. Nós estamos realmente à espera dessa luz". Essa luz é um sentido para a vida, um propósito ou até a salvação.
Gábor Tompa pensa que o mundo precisa de reerguer-se das cinzas, como uma fénix, e dar à luz um novo mundo, onde não haja diferenças entre ricos e pobres. Atualmente, diz, vive-se num jogo de sobrevivência. Vladimir e Estragon interagem com objetos "de modo a fazer o tempo passar, mas o tempo é uma invenção dos humanos", segundo Tompa, e as pessoas submetem-se às regras impostas pelo mundo antigo.
O encenador prepara-se para trabalhar num novo projeto que vai unir todos os teatros da Europa, incluindo o Teatro Nacional São João. O projeto percorre a Antiga Grécia e vem até à contemporaneidade. Tompa dirigirá "Prometheus Bound", em combinação com a catástrofe de Beckett, incidindo na responsabilidade e condição que a Internet faz hoje aos humanos.