O ministro brasileiro do Desporto, Orlando Silva, assinou um despacho que ajudou a organização não governamental do polícia que agora o acusa de corrupção.
Corpo do artigo
A assinatura do documento ocorreu em Julho de 2006, três meses depois de auditorias internas reprovarem, por indício de fraude, um acordo que a ONG do polícia João Dias Ferreira tinha com aquele ministério.
No despacho, Orlando Silva autorizou, ele próprio, a redução da contrapartida que a ONG deveria apresentar para ganhar outro acordo com o governo.
Na altura a maioria dos contratos exigia contrapartidas de 30%, mas a organização de João Dias Ferreira só precisou oferecer uma contrapartida de apenas 6 por cento.
Este é o primeiro documento que estabelece uma relação directa entre o ministro e Dias Ferreira, que em 2010 foi detido sob a acusação de desvio de recursos do programa Segundo Tempo, que financia projectos de estímulo à prática do desporto por jovens carenciados.
Dias Ferreira afirma que Orlando Silva comandava o esquema de desvios de dinheiro. Segundo o polícia, o ministro chegou a receber "luvas" na garagem do próprio ministério.
O dinheiro desviado, afirma o polícia, servia para financiar o Partido Comunista do Brasil (PC do B), aliado do governo e que está no comando do ministério desde 2003.
Em nota, o Ministério do Desporto afirmou que Orlando Silva reduziu a contrapartida da ONG porque a área técnica foi favorável e porque tinha uma prerrogativa para isso.
"Em 2006, a Lei de Diretrizes Orçamentárias não exigia oferta de contrapartida, e as percentagens ficavam ao critério das partes", adianta ainda o comunicado.
Esta não é a única nova denúncia contra o Ministério do Desporto publicada hoje.
O jornal O Estado de São Paulo denuncia que o ministério libertou 1,37 milhão de reais (555 mil euros) para a construção de um Centro de Treino de Desportos de Alto Rendimento na cidade de Campos do Jordão, a 175 km de São Paulo. A obra deveria ter sido entregue no final de 2007, mas está longe de ficar pronta.
A crise no ministério já dura há dez dias, e a situação do ministro do Desporto - mantido pela Presidente no cargo devido à presunção de inocência - agrava-se a cada dia.
Numa carta enviada ao seu partido, Orlando Silva acusou a imprensa de dar voz a um "bandido" e disse que, desde o início das denúncias, exigiu investigação e apresentação de provas, "que até hoje não apareceram".
Na segunda-feira, Dias Ferreira declarou à imprensa que entregou à Polícia Federal documentos e áudios que comprovariam as suas acusações contra o governante. No mesmo dia, o Ministério do Desporto afirmou ter aberto uma sindicância para investigar as denúncias.
O Ministério do Desporto é peça essencial no governo da Presidente Dilma Rousseff, já que o Brasil vai acolher o Mundial2014 de futebol e os Jogos Olímpicos de 2016.