A manifestação contra a redistribuição dos 'royalties' do petróleo, iniciada no começo da tarde de hoje, no centro do Rio de Janeiro, reuniu 150 mil pessoas, segundo informações da Polícia Militar.
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Cerca de 10 mil pessoas vieram do interior do Estado, na sua maioria das cidades de Macaé e Campos, municípios que vivem da renda que as actividades petrolíferas lhes proporcionam.
"A nossa intenção é que as autoridades reconheçam que, quando a Petrobras foi para Macaé, o impacto foi muito grande na natureza, no meio ambiente. Os 'royalties' têm que ficar lá. Não é uma questão de recompensa. É justiça", defendeu o professor Ivan Freitas, morador de Macaé, em declarações à Agência Lusa.
Os manifestantes fizeram 't-shirts' especiais com frases contrárias ao projecto de lei que está em avaliação no Congresso Nacional e poderá reduzir em milhões de reais o dinheiro que o Estado do Rio de Janeiro recebe em função dos direitos pela exploração do petróleo em seu território.
"Justiça para quem produz", diz a 't-shirt' dos manifestantes da cidade de Campos, onde está localizada uma das maiores bacias de petróleo do país.
"Eu estou aqui mais por causa da nossa passagem - que lá em Campos custa 1,00 real. Eles dizem que se o 'petróleo' acabar [se as participações nos 'royalties' forem reduzidas] vão ter que fechar creches, escolas, posto médico, então como [é que] os pobres vão viver?", questionou a dona de casa Maria da Conceição Pinto, que viajou quatro horas para participar do ato, em declarações à Agência Lusa.
Uma réplica da estátua do Cristo Redentor de braços ao alto, em gesto que sugere um assalto, foi carregada durante toda a marcha.
A passeata, que atravessou uma das principais avenidas da cidade, fechada ao trânsito especialmente para o evento, foi acompanhada de camiões de som, que tocaram músicas populares durante a maior parte do tempo.
Ao longo do trajecto percorrido, em alguns momentos o som cedeu lugar a discursos ligados ao motivo da campanha, mas não houve pronunciamentos oficiais do governador ou do Prefeito, que também participaram na manifestação.
Alguns dos presentes manifestaram desconhecer o motivo do protesto, mesmo vestidos com camisas a pedir o fim da "injustiça" contra o Rio.
A disputa em torno do tema é antiga. O impasse surgiu durante o governo Lula da Silva, após a descoberta de novas reservas de petróleo na região conhecida como "pré-sal".
Na altura, o governo teve a ideia de criar um novo regime de partilha para os direitos exploratórios do petróleo, com maior participação para a União [Governo Federal] e para os Estados não-produtores.
Uma das maiores polémicas resulta de a proposta de lei incluir não apenas as novas plataformas a serem exploradas, mas também os poços já em funcionamento.
A mudança representaria fortes perdas para os Estados que possuem grande parte das suas receitas provenientes do petróleo, como é o caso do Rio de Janeiro.