Os dados estatísticos que apontam para uma redução significativa da criminalidade no Rio de Janeiro podem estar a ser manipulados, admite um estudo do Instituto de Pesquisa Económica e Aplicada (IPEA).
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A Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro informou que o secretário, José Mariano Beltrame, convocou para hoje uma reunião com representantes da Secretaria de Saúde, do Instituto de Segurança Pública e do Departamento de Polícia Técnica do Rio de Janeiro para "abrir todos os dados, comparar metodologias e avaliar os números apresentados" na investigação em questão.
Números oficiais, divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, apontam para uma redução de 28,7 por cento nos assassinatos entre os anos de 2007 e 2009, que coincidem com o início do atual governador, Sérgio Cabral.
A pesquisa do IPEA, dirigida pelo economista Daniel Cerqueira, no entanto, sugere que as estatísticas de homicídios podem estar a ser "disfarçadas". A alegação tem como base um aumento representativo no número de homicídios sem causa externa determinada.
De acordo com o estudo do IPEA, os óbitos com "causa externa não esclarecida" passaram de 1.857, entre 2000 e 2006, para 4.021, entre 2007 e 2009.
Neste caso, o aumento dos óbitos contabilizados neste subitem estaria a contribuir para uma redução concomitante nas taxas de outras categorias de mortes em outros itens, como "homicídios", "suicídios" e "acidente".
O estudo vai mais além e cataloga o perfil típico das vítimas de homicídios, acidentes e suicídios na cidade do Rio de Janeiro.
Na maioria dos casos em que o óbito foi registado como "morte sem causa determinada", a vítima era jovem e foi atingida, por tiros, na rua, o que coincide com o perfil típico da vítima de assassinatos da cidade.
Os dados avaliados no estudo têm como base as estatísticas oficiais do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), divulgado pelo Ministério da Saúde brasileiro.
A análise realça ainda que este aumento no número de óbitos violentos, cuja causa não foi esclarecida, destoa não apenas do padrão dos dados do Rio de Janeiro até 2006, mas também dos óbitos indeterminados no âmbito nacional.