Mostra na Culturgest Porto tem 200 desenhos do carismático artista.
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Quando aos 20 anos trocou Lourenço Marques pela cidade do Porto, Ângelo de Sousa (1938-2011) começou a fazer uma espécie de diário gráfico de ´árvores. Como explica o filho Nuno de Sousa, era mais uma questão de oportunidade: "Podia-se desenhar árvores, desenhava-se".
A série, que viria a acompanhar toda a sua carreira, intitula-se "Árvores", como quem atribui uma alcunha ao invés de um nome, e como chegou a revelar numa entrevista, considerava serem "os primeiros trabalhos mais relevantes" da sua carreira.
Uma parte desse legado, cerca de 200 desenhos, estão agora expostos na Culturgest no Porto, fruto de uma seleção do curador Bruno Marchand.
Nos primeiros desenhos (dispostos cronologicamente, dos anos 50 aos anos 80, com as árvores numeradas com carimbos e as datas assinaladas manualmente) as representações são mais abstratas do que figurativas. A figuração torna-se bastante vincada nos anos 90, em que os trabalhos vão ganhando cor. Nos desenhos da viragem do século volta a existir uma mudança na representação e as árvores apresentam-se como massas, modeladas de forma irreal, e vão novamente perdendo a cor. A produção era por vezes feita em série, com vários desenhos realizados num mesmo dia.
A Ângelo de Sousa interessava, como escreveu Bruno Marchand, "o máximo de efeitos com o mínimo de recursos, o máximo de eficácia com o mínimo de esforço, e o máximo de presença com o mínimo de gritos". Para o artista, o relevo desta forma presente na natureza prendia-se com "as margens do território formal daquilo que pode ser uma árvore, isto é, experimentar os limites e perceber o quão longe poderia ir sem perder o elo entre um registo e a ideia".
Apesar da importância desta série, "Árvores" foi um dos trabalhos que menos vezes esteve exposto. Esta mostra, que pode ser vista até 12 de junho, é o nono e último momento do ciclo "Reação em cadeia", da Culturgest, em que um artista convida o seguinte.