“Os papéis do inglês”, de Sérgio Graciano, estreia esta quinta-feira em todo o país. É o filme em destaque esta semana.
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Como filmar a palavra? Como transmitir em imagens e sons a poesia escrita? Como captar a essência de um povo? Como trazer para a sala de cinema os sons, os cheiros, o encanto e a rudeza do deserto? Como aproximar portugueses e angolanos, sem esquecer o passado mas olhando para o futuro?
Todas estas questões são respondidas, mais do que com eficácia, com talento e sincera honestidade num filme que chega hoje às salas e que é de visão obrigatória: “Os papéis do inglês, realização em forma de milagre coletivo de Sérgio Graciano.
O filme adapta o que se chamou a “Trilogia de Próspero”, do escritor, antropólogo e também cineasta Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010), nascido em Santarém mas angolano por adoção, e que é constituído pelo livro que dá título a esta adaptação ao cinema e ainda por “As paisagens propícias” e “A terceira metade”.
O projeto partiu do encontro do produtor Paulo Branco com o próprio Ruy Duarte de Carvalho, com a tarefa de encontrar uma linha narrativa tecendo estas histórias entregue, com absoluta legitimidade, ao angolano e amigo do escritor, José Eduardo Agualusa.
“Os papéis do inglês, versão cinema, acompanha assim o próprio Ruy Duarte de Carvalho na sua busca por uns papéis que o seu pai deixara no deserto do Namibe e que lhe permitiriam resolver uma intriga ocorrida no início do século passado…
Sérgio Graciano e o seu cúmplice João Pedro Vaz, na pele de Ruy Duarte de Carvalho captam na perfeição a alma do escritor. A sua comunhão com os elementos, a terra que tanto amava, o respeito pelos outros, a solidão como modo de vida, a sua forma de ver o mundo.
E há o deserto, a nobreza com que se filma a comunidade que ali vive, esse sopro fordiano num filme português, tão inesperado como genuíno. E esses planos longos, lânguidos, com o ritmo certo para nos envolver, fruto do espantoso trabalho de Mário Castanheira.
Que ninguém diga mais que gosta de cinema se deixar escapar este pequeno diamante.