Estreia esta quinta-feira em Portugal o pungente e admirável “A História de Souleymane”.
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É frequente dizer-se que o cinema é uma janela para o mundo. É talvez um lugar-comum, mas com uma grande dose de verdade. No mundo em que vivemos, repleto de injustiças, é normal que cada vez mais cineastas se interessem pelas questões sociais e políticas do nosso tempo.
Infelizmente, grande parte desses filmes encerram-se sobre si próprios, sem grande eficácia. Não é o caso, de todo, do admirável “A História de Souleymane”, que estreia agora e seria lamentável perder, já que nos oferece, em primeiro lugar, um poderoso retrato humano.
É, como diz o título, a história de Souleymane. Um jovem que parte de África para a Europa em busca de trabalho – no final saber-se-á exatamente porquê -, chega a Paris, arranja uma conta para fazer entregas de comida ao domicílio e tenta, ao mesmo tempo, legalizar-se.
É a história deste Souleymane, mas poderia ser a história de muitos outros. Poderia cair no miserabilismo, mas nunca o faz. O realizador, o francês Boris Lojkine, está já habituado a este universo para não se deixar cair nas armadilhas que esta história lhe colocava.\
Pelo contrário, cria com Delphine Agut um guião de enorme solidez, documentando o sistema solidário francês e o sistema das entregas ao domicílio, filma a noite de Paris com nervosismo, mas sabe criar os seus momentos de silêncio, junta a Souleymane um grupo notável de personagens, que vemos ou apenas ouvimos, da mãe à funcionária do serviço de emigração, passando pela noiva que tem de deixar cair.
O filme mostra o racista e a pessoa de bem, de forma subtil e inteligente, com Souleymane a cruzar uma França dividida. E encontra no jovem Abou Sangare alguém capaz de nos emocionar. É também a história dele. Já premiado em Cannes, foi considerado Melhor Ator nos Prémios do Cinema Europeu, mas não pôde deslocar-se a Lucerna por estar ainda à espera da sua legalização em França. Depois de ver o filme, somos todos Souleymane.