Wolf Manhattan é o novo alter ego do produtor João Vieira. A estreia da nova personagem da pop é já esta sexta-feira no Porto. Dia 10 é na ZDB, em Lisboa.
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Estamos algures no centro de Nova Iorque, numa loja de discos. No primeiro andar vive um lobo solitário, um produtor que se rodeia de álbuns em vinil, um gravador de quatro pistas e uma guitarra dos anos 1950. Nessa solidão, Wolf Manhattan, como é conhecido, encontrou nas sonoridades do garage, do indie e da pop o seu refúgio. E presenteia-nos com elas.
O álbum de estreia do novo alter ego do músico, compositor e produtor João Vieira, conhecido pelos projetos X-Wife, Club Kitten e White Haus, junta 13 canções sobre "corações partidos, dúvidas, dívidas, sonhos e desilusões".
Agora, apresenta-as ao vivo. A estreia em palco de Wolf Manhattan acontece já esta sexta-feira, no Círculo Católico dos Operários Do Porto (CCOP). De seguida, no dia 10 de fevereiro, é a vez de atuar na Galeria Zé dos Bois (ZDB), em Lisboa.
Em plena pandemia, numa urgência de criar algo novo, João Vieira resgatou demos perdidas por computadores, telemóveis e cadernos seus e socorreu-se de referências lo-fi para construir esta nova personagem.
"Não sabia como encaixar aquelas criações perdidas nos meus outros projetos, o que me levou a pensar "e se eu perdesse isto e fosse encontrado daqui a uns anos?"" Surgiu assim a história ficcional (com pitadas de realidade) que nasceu recentemente. A narrativa é irónica: revela-nos que foram achados os discos de Wolf Manhattan, um artista anónimo perdido no tempo e no insucesso.
Criar sem exposição
A ideia era levar a história criada a um outro nível. "No início nem dizia que era eu que estava por detrás do personagem, mas claro que, eventualmente, tive de despir essa capa". Mas o facto de atuar sob a história de uma personagem de ficção, diz João Vieira, "dá liberdade e descanso". "Não sou pessoa de me expor nas redes sociais e, hoje em dia, um artista vive disso. Com o Wolf posso fazê-lo sem me expor a mim".
Apesar de este ser um projeto "de alguém que já tem um historial", para as pessoas é algo novo e é necessário "conquistar o público", explica o compositor e produtor. As faixas de curta duração no álbum fazem parte dessa estratégia. "Estamos numa era da atenção curta e seletiva, por isso, decidi cingir-me a canções que não custem muito tempo a quem as ouve".
A capa do disco é um jogo de tabuleiro
Mas a história de Wolf Manhattan não se fica pelo disco. Para os curiosos, o vinil pode ser complementado com um livro, vendido à parte e que conta a história completa da vida do lobo solitário. Há ainda um jogo de tabuleiro incluído no disco. A capa do vinil, assinada pelo artista inglês Toby Evans-Jesra, é um jogo com personagens, cenários e perguntas que dão acesso ao universo desta personagem que se quer manter "misteriosa".
Também os concertos ao vivo serão "algo diferente do habitual para o público", revela João Vieira. "A ideia é que não haja contacto com os espetadores. Não há "boa noite" ou explicações." Há distanciamento, tal como numa peça de teatro, exemplifica. "O que estará a acontecer em palco é a história do Wolf Manhattan e quem irá surgir a atuar serão as personagens do livro, da capa do disco e do jogo." João Vieira resume todo este ambiente que criou como uma "fábula infantil assustadora". A história, no entanto, bebe de uma "visão realista do que é o Mundo", sendo um espelho de como é difícil viver da música.