Realizador André Godinho fala sobre a linguagem da estética teatral nascida à sombra da pandemia.
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Olhando para o roteiro de celebrações do Dia Mundial do Teatro, que se celebra este sábado, quase parece um ano normal. A diferença é que nenhuma das obras previstas reunirá no mesmo espaço o público e o espetáculo.
Teatro mediado por câmaras e online: que objeto artístico é este? André Godinho, realizador que trabalha regularmente em cinema, televisão e em vários projetos teatrais, é categórico: "É teatro. O que não se pode fazer é filmar um espetáculo e mostrar como era suposto ele ser".
O streaming já existia antes da pandemia, a dúvida nem tanto; agora, o teatro pode ou não ser físico. A aposta foi clara para programadores como Tiago Guedes, diretor do Teatro Municipal do Porto, que desenhou, logo no início da atual temporada, uma programação exclusiva para o online. Tiago Rodrigues, diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, disse ao JN que vai ter uma sala exclusivamente online. Em Viana do Castelo, o Teatro do Noroeste também se rendeu, conseguindo desde o início da pandemia emitir 40 espetáculos e totalizando mais de 150 mil visualizações.
Neste 2021, um segundo ato de 2020, a atriz britânica Helen Mirren foi a escolhida para escrever a mensagem de celebração do International Theatre Institute. Numa nota otimista, disse aos congéneres: "A nossa imaginação já se traduziu, nestas novas circunstâncias, em formas inventivas, divertidas e comoventes de comunicar, graças, é claro, e em grande parte, à Internet".
Uma questão semântica?
Desde o início da pandemia André Godinho criou, de raiz, três espetáculos com companhias de teatro para serem transmitidos online. "Heading against the wall" e "Azul vermelho azul manteiga" para a Cão Solteiro, e "F." para a Estrutura.
Os maiores desafios que encontrou - além do "tempo curto", porque muitas vezes a opção streaming foi conhecida tardiamente - residiram na estética. "Neste formato as pessoas estão em plano médio a olhar para nós, há uma intimidade construída, não as conseguimos ver de corpo inteiro como no palco".
Acrescentando que é um "embate difícil" para os intérpretes que só trabalham em teatro, Godinho assegura que a tarefa de filmar teatro "não é cinema". E conta que teve várias discussões com Paula Sá Nogueira, atriz da Cão Solteiro, que se refere a "teatro" quando é físico e a "filme" quando em streaming.
Pelo fator novidade, André Godinho explica que o alcance não está a ser totalmente capitalizado, "muitas vezes porque não está a ser bem comunicado". Acredita também que "neste momento há uma saturação do formato Zoom, mas não vai ser sempre assim. E esta estética pode ser uma possibilidade".
Dia Mundial do Teatro
Teatro Municipal do Porto
Paula Diogo e Tónan Quito com o coletivo brasileiro Foguetes Maravilha - "Paisagem" (site, em contínuo)
Companhia João Garcia Miguel - "Os passos em volta" (Facebook e YouTube, em contínuo)
CM Gaia
Cegada Teatro - "Fronteira fechada" (site, 21 horas)
Casa da Criatividade
Lançamento do livro "Festival de Teatro de São João da Madeira 2007-2020" (17 horas)
Comuna Teatro - "As artimanhas de Scapin"(21.30 horas)
Teatro Nacional São João
Gabór Tompa - "À espera de Godot"
Nuno Cardoso - "O balcão" (ambos no site, em contínuo)
Oficina e LU.CA
Cão Solteiro - "Azul vermelho azul manteiga"(site, em contínuo)
Teatro Académico Gil Vicente
Visitações Vicentinas - Álvaro Benamor e Escola da Noite - "Remediações "(sala Zoom TAGV, 21.30 horas)
Teatro Nacional D. Maria II
Pascal Rambert - "Teatro"
Mónica Garnel - "Antígona"
Cristina Carvalhal - "Teatra"
Contos para os mais novos (todos na sala online, em contínuo)
Assédio Teatro
Francisco Luís Parreira - "Língua de cão e litania" (site, em contínuo)