"Os piores", drama francês de Lise Akoka e Romane Gueret, venceu um prémio na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes.
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Apesar da sua diversidade, o cinema francês tem ainda caminho a percorrer para mostrar histórias de todas as múltiplas franjas de que se compõe hoje a sociedade gaulesa. É também por isso, a somar às suas específicas virtudes, que um filme como "Os piores", nascido de forma independente, se tornou um dos objetos fílmicos mais interessantes da temporada. E esta quinta-feira chega às salas portuguesas.
O conceito do filme é muito simples: um grupo de jovens de um bairro desfavorecido do norte francês é escolhido para participar, durante o verão, numa produção de cinema.
A história do filme confunde-se com a própria história da produção - anos antes, as cineastas Lise Akoka e Romane Gueret foram precisamente àquela região fazer um casting para um filme parisiense.
Envolvendo-se com os jovens, sensibilizadas pela sua energia e talento em potência e bem recebidas pela comunidade, transformaram a experiência na curta-metragem "Chasse Royale", nome do bairro onde filmaram. E o filme é uma espécie de extensão da curta para o formato de longa.
Nesse sentido, "Os piores", um produto em permanente tensão, honesto e crítico quando tem de ser, esperançoso quando pode, é uma obra única e irrepetível, singular e ao mesmo tempo capaz de, através de algumas das suas leituras possíveis, nos oferecer um retrato sociológico da França de hoje e do seu futuro.
E depois há os jovens, o que de melhor tem o filme, dirigidos por duas jovens cineastas com quem se nota que criaram uma imensa comunhão e que tão bem os serviram nesta narrativa de rara poesia sobre a infância e a juventude. "Os piores" é ainda um filme sobre o Cinema, sobre como é possível fazer algo de original e com sentido sem grandes meios financeiros.
O drama esteve em Cannes, ganhou um prémio maior na secção Un Certain Regard, levou uma das jovens às nomeações para os Césares e viajou pelo mundo fora. Agora está nas nossas salas.
Vale mesmo a pena ver. Mais; manter a possibilidade de filmes como estes continuarem a ser distribuídos nas salas de cinema entre nós depende dos espetadores, depende literalmente de si.