"A Seiva Trupe não encerra. A Seiva Trupe vai ter apoio". A convicção foi deixada pelo diretor artístico da histórica companhia de teatro do Porto, numa manifestação que decorreu na tarde deste domingo, na Praça do Marquês. Jorge Castro Guedes acredita que o Ministério da Cultura vai reverter a decisão de excluir a estrutura do programa de apoio sustentado da Direção-Geral das Artes.
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A companhia de teatro, que em setembro de 2023 celebra 50 anos, vai aguardar que decorra o prazo de audiência dos interessados e que sejam publicados os resultados finais dos concursos. Se a decisão não for revertida, a Seiva Trupe irá avançar com um recurso hierárquico, mecanismo previsto no Código do Procedimento Administrativo que visa a impugnação de um ato da Administração Central.
Em paralelo, está em curso uma petição online, a entregar ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, solicitando a sua intervenção direta, face às "características únicas desta e de outras companhias que sejam idênticas a ela, no reconhecimento de uma discricionariedade pela positiva". "O júri considerou a companhia elegível, deu-lhe pontuação suficiente para ser apoiada. O que o sr. ministro da Cultura refere é a dificuldade de verbas", disse ao JN aquele responsável.
Considerando que se trata de uma "situação absurda", Jorge Castro Guedes lembrou que outras estruturas históricas ficaram de fora dos apoios, como a Filandorra - Teatro do Nordeste, a Acta, do Algarve, e A Barraca, de Lisboa. "Queremos que todos os elegíveis tenham apoio", acrescentou. No caso da companhia que dirige, está em causa um apoio de 300 mil euros/ano, por um período de quatro anos.
O encenador acredita que, se a tutela não apoiar a Seiva Trupe, a Câmara do Porto poderá vir a fazê-lo, uma vez que dotou com "diversos equipamentos" a Sala Estúdio Perpétuo, a nova casa da companhia. "O próprio presidente da Câmara teria uma palavra a dizer. O que não é justo é transpor para a Autarquia aquilo que são responsabilidades da Administração Central", disse ainda.
Júlio Cardoso, um dos fundadores da Seiva Trupe, referiu-se à falta de apoios à companhia, e ao teatro em geral, como "uma absurdidade monstruosa" e confessou-se aborrecido por ter de "estar de joelhos perante a mediocridade", numa altura em que ele próprio já deu muitos anos de vida à arte.
Lembrou o "pioneirismo" que a companhia teve há 50 anos, quando "apresentou pela primeira vez no Porto um concerto em rock português" e lhe chamaram "parolo". Por outro lado, criticou o facto de a decisão da Direção-Geral das Artes ter sido tomada por um júri "ad-hoc" e incentivou os presentes a "dizer não à hipocrisia, à mediocridade, à inveja".
Diretos de Vila Real, artistas e outros elementos da Filandorra compareceram em peso na manifestação, que foi organizada por um grupo de cidadãos. David Carvalho, diretor artístico da companhia, manifestou "solidariedade absoluta" para com a Seiva Trupe, que considera "um elemento histórico do teatro em Portugal".
Igualmente solidário - e incrédulo quanto ao futuro - estava João Luiz, diretor e encenador do Pé de Vento. "Ao mesmo tempo também sou vítima. Desta vez, tivemos zero", disse ao JN, aludindo ao facto de a companhia também ter sido excluída do apoio da Direção-Geral das Artes. "Para o ano fazemos 45 anos e estamos sujeitos a fechar a porta", concluiu.