Reclamar as verbas previstas pelo concurso da DGArtes é o objetivo da manifestação. Diretor da companhia de teatro avança para "requerimento hierárquico". Ilda Figueiredo quer que a autarquia pressione o Governo.
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"Não deixaremos morrer a Seiva Trupe." É esta a promessa do grupo de cidadãos que irá concentrar-se hoje, na Praça Marquês do Pombal, no Porto, às 16 horas, para protestar contra a exclusão da histórica companhia portuense da concessão do Apoio Sustentado da DGArtes a que concorrera para os próximos quatro anos. O que poderá pôr em causa a continuidade da estrutura.
Dinamizado pelo antigo jornalista do "JN", Soares Novais, e pelo economista Rui Vaz Pinto, presidente da Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, o protesto foi anunciado nas redes sociais, atraindo figuras do teatro como Carlos Avilez, São José Lapa ou Roberto Merino, além de professores, sociólogos, políticos, historiadores ou funcionários públicos. "Até taxistas aderiram", diz Soares Novais, que espera 250 pessoas na manifestação. Os participantes serão convidados a assinar uma petição que será dirigida ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva. A acompanhar o protesto haverá uma atuação do grupo dos Balcãs Baklavav e uma performance de Mariana Silva Costa.
"Enviámos também convites a todos os grupos parlamentares, exceto ao do Chega", diz Novais. "Trata-se de uma companhia icónica do país, que não pode estar sujeita às decisões de um júri "ad-hoc". Ainda por cima, alcançou a pontuação necessária para receber o apoio. Como é que não há dinheiro para aqueles que ajudam a que as nossas vidas sejam um bocado melhores?", questiona.
Também o ator Rui Spranger, colaborador habitual de Seiva Trupe, que irá celebrar 50 anos de atividade a 11 de setembro de 2023, lembra a importância da companhia, no passado e no presente: "A Seiva está ligada à fundação do FITEI e da Academia Contemporânea do Espetáculo; formou atores como António Durães e Ana Bustorff; e está na origem do Teatro Campo Alegre. É ainda hoje uma das poucas companhias que conseguem fazer carreira longa e ter sempre público. Mais do que depender de apoios pontuais, deveria estar enquadrada num contrato-programa, como os teatros "stabile", de Itália, orientados pela ideia de serviço público."
Castro Guedes confia
A DGArtes conta já com cerca de 60 contestações aos resultados dos concursos, que deixaram sem financiamento outras companhias emblemáticas, como A Barraca, Filandorra ou a Acta, estando a decorrer um período de "audiência de interessados" para reclamações. Mas Jorge Castro Guedes, diretor da Seiva Trupe, pretende saltar por cima do que considera um "mero pró-forma" e irá avançar com um "requerimento hierárquico", solicitando a intervenção direta do ministro da Cultura: "A pontuação obtida pela Seiva Trupe tornou-a elegível para os apoios. Trata-se de um problema de falta de verbas e, portanto, uma questão política. Iremos avançar no momento considerado oportuno pelos nossos advogados. E estou confiante que nos será concedido aquilo que o júri decidiu [apoio de 300 mil euros por ano durante 4 anos]. Se não, passaremos à instância seguinte. Não acredito que o ministro das Finanças, Fernando Medina, que teve um papel fundamental no apoio às companhias durante o período da pandemia, não perceba que salvar a Seiva Trupe é do interesse da República."
Outra ação de apoio surgiu da parte de Ilda Figueiredo, vereadora da CDU da Câmara Municipal do Porto, que lavrou uma proposta de recomendação para que a autarquia, na sua reunião de amanhã, "decida manifestar ao ministro da Cultura a preocupação com o futuro do teatro independente do Porto, designadamente da Seiva Trupe, apelando a que o Governo tome as medidas necessárias para a sua defesa e promoção."