Neurocientista norte-americano especula sobre a vida para além da morte em 40 narrativas publicadas pela Lua de Papel.
Corpo do artigo
São dezenas e dezenas de aproximações possíveis (40, para sermos mais exatos) à questão que mais inquieta a Humanidade desde tempos imemoriais: o que acontece, afinal, quando morremos?
Especialista em neurociências, com uma vasta obra de divulgação científica , o norte-americano David Eagleman entrega-se em “A Soma de Tudo” a um exercício de ficção especulativa que tem o condão óbvio de nos fazer levantar possibilidades, no mínimo, implausíveis, à luz, pelo menos, dos ensinamentos religiosos.
E se Deus for apenas do tamanho de uma bactéria, “não uma entidade fora de nós e muito superior, mas sim à superfícies e nas nossas células?” Nesse universo alternativo, Ele “digladia-se com o Mal, num campo de batalha composto por proteínas superficiais, imunidade e resistência”.
Ou então, como escreve em “Códigos”, talvez sejamos apenas compostos por uma gigantesca quantidade de números, cada qual representativo de diferentes aspetos das nossas vidas.Valendo-se dos seus sólidos conhecimentos científicos, Eagleman sustenta estas teses tendo quase sempre como pressuposto questões como a individualidade sob um prisma tecnológico, ético ou filosófico, sem esconder um distanciamento notório face às religiões, que inculcaram nos Homens a ideia de divindades infalíveis.
Por isso, a esmagadora maioria dos deuses que habitam estas páginas são tão ou mais imperfeitos do que os humanos, os quais só se apercebem do logro assim que chegam ao outro lado. No conto “Cemitérios de deuses”, o autor de “Cérebro em ação” descreve as supostas divindades como seres solitários e sem abrigo, formando “uma irmandade de abandono”.
Muitos dos cenários avançados nas micronarrativas já foram escalpelizados em ficções científicas, como o que defende que somos apenas um chip de um computador, que existem em redes e se movimentam em imensos programas de software, “o produto cósmico de três Programadores”. Ainda assim, cada leitor poderá encontrar, neste imaginativo tratado metafísico , uma visão apaziguadora q.b. sobre o Além. Até mesmo a possibilidade de descobrirmos que no trono de Deus está sentada Mary Wollstonecraft Shelley, a criadora de “Frankenstein”.