A italiana Alice Rohrwacher dirige “A Quimera”, a partir desta quinta-feira nos cinemas portugueses.
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Esta Alice, a Rohrwacher, um dos nomes fortes de um cinema italiano pós-Moretti, rima bem com “país” e com “maravilhas”. Aliás, um dos seus filmes anteriores, intitulado na origem apenas como “Le Meraviglie”, numa liberdade que se compreende e aceita, mereceu o título português de “O País das Maravilhas”.
Alice Rohrwacher, que fez o seu Erasmus em Portugal e por cá começou carreira, tem novo filme, e esse lado do maravilhoso não está de todo ausente, muito pelo contrário.
“A Quimera”, que hoje estreia em várias salas do país, esteve em competição na edição do ano passado de Cannes e acaba de vencer um dos prémios mais importantes do Indie Lisboa, e confirma, se tal ainda fosse necessário, o estatuto de verdadeira autora, dona de um universo, desta italiana que não nega referências mas faz um cinema único.
Desta feita, instala-se e instala-nos numa pequena localidade perto do Mar de Tirreno, marcada pela presença da civilização etrusca e por uma geração de ladrões de túmulos. O nome que se lhes dá em italiano é no entanto bem mais romântico: “tombaroli”.
Atividade agora um pouco em desuso na região, é aí que chega o protagonista, saído de uma temporada na prisão, mas cuja quimera é a mulher que perdera. Amor perdido, amor reencontrado, neste lugar de “maravilha” que é a vida, aí está também Italia, personagem interpretado pela brasileira Carol Duarte, também brasileira no filme, à frente de um grupo de mulheres que ocupa uma estação ferroviária abandonada.
Alice Rohrwacher lembra-nos que estamos no mundo (de sonho) do cinema: câmara acelerada (como num filme de Buster Keaton?), imagem invertida, personagens a falar diretamente para a câmara (para nós). Cinema em liberdade. Magia entrecortada com realismo social. A sala escura como lugar privilegiado do imaginário. Que maravilha!