Anabela e Margarida Moreira interpretam "O último banho", desde esta semana nas salas.
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Primeira longa-metragem de David Bonneville, "O último banho", coloca as gémeas Anabela e Margarida Moreira de novo no mesmo projeto. Anabela é uma freira que tem de abandonar o convento para tomar conta do sobrinho adolescente, depois da morte do avô, com quem vivia após ter sido abandonado pela mãe, interpretada por Margarida. As duas atrizes falam deste filme e do seu percurso.
O que vos disse o David Bonneville para vos convencer a fazerem o filme juntas?
Margarida Moreira - Ele não precisou de nos convencer. O que aconteceu de interessante é que desta vez não fizemos de gémeas, mas de irmãs.
Anabela Moreira - O que ele disse foi que queria trabalhar connosco. Lembro-me de o ter encontrado num festival uns cinco anos antes e de ele ter dito que gostava muito de desenvolver um projeto comigo, ele era fã das obras do João Canijo. Mandou-me o guião e uma hora depois de o ler estávamos a trabalhar.
Trabalhar juntas é algo que promovem ou que evitam?
AM - Não promovemos. O primeiro trabalho que fizemos na vida foi como gémeas. Éramos meras aspirantes. Se acontecer, acontece, mas nunca fomos à procura dessa marca. Deixámos que as coisas acontecessem. Ela tem a carreira dela, eu tenho a minha. Mas maioria do público português desconhece que somos duas.
MM - Mas também não evitamos. Também fizemos alguma publicidade juntas. E teatro. Este é o nosso segundo projeto juntas em cinema, depois do "Diamantino".
Como é que aconteceu terem as duas a mesma paixão pela representação?
MM - Foi um desejo desde muito cedo e foi acontecendo naturalmente. Há outros pares de gémeos com os mesmos objetivos de carreira, como na moda. Não somos únicas. Como gémeas houve muita coisa na educação que foi comum.
AM - O nosso pai era dono do cinema Turim. Tanto eu como a minha irmã tínhamos este fascínio de estar atrás da máquina de projetar - nós chamávamos-lhe a Maria. Fomo-nos divertindo a ver cinema e a brincar com as câmaras que o nosso pai comprava. Foi uma coincidência mas foi algo que desenvolvemos em conjunto.
O David Bonneville não apostou nas vossas semelhanças, criando pelo contrário duas mulheres que são completamente diferentes.
MM - Nós somos dois seres individuais. Parece óbvio, mas quando se trata de gémeos as pessoas esquecem-se. Por coincidência partilhámos o mesmo ventre na mesma altura, mas somos dois seres únicos e distintos. O David explorou isso, o fazermos apenas de irmãs, até podíamos fazer de primas. Não explorou o óbvio, o que foi muito interessante.
Como é que a Anabela trabalhou aquele lado mais íntimo da personagem, a sua religiosidade, a repressão da sexualidade?
AM - Eu e a minha irmã crescemos associadas ao Colégio de São José, das Irmãs Dominicanas. Descobri que elas têm um convento em Monsanto e perguntei-lhes se podia ir passar uns dias com elas. E foi surpreendentemente agradável. Nunca imaginei que me pudesse fazer tão bem. Elas não negam poderem apaixonar-se, nem o desejo físico, procuram é evitar que esse lado seja despertado. É uma filosofia de vida com que não me identifico mas que consegui entender.
As duas têm relações diferentes com a personagem do jovem. Como é que trabalharam com o Martim Canavarro?
MM - A Anabela iniciou o processo muito mais cedo. Quando eu cheguei, a relação entre eles já estava desenvolvida. Eu não o conhecia e durante a rodagem ele estava sempre a dizer-me: tu abandonaste-me.
AM - Eu não me esquecia que ele era uma criança, apesar de ter aquele corpo todo. Tinha 13 anos. E teve a capacidade de aligeirar todo o processo. Eu já tive 13 anos e seria incapaz de me expor como ele. Não me surpreendeu a carreira de sucesso que tem tido como manequim. v