Nova exposição do artista plástico resulta de um diálogo entre o passado e o presente
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Na sua mais recente exposição, "Blank dreams - Who"s afraid of the black canvas", patente na Galeria Serpente, no Porto, até ao final desta semana, o artista plástico Paulo Moreira faz do visitante simultaneamente espectador e ator do processo de criação artística.
Ao destinatário destas pinturas, desenhos e esculturas não lhe é pedido apenas que se confronte com a sua natureza predominantemente inquisitiva, mas que reconstitua também essas mesmas obras, ajustando-a à sua própria configuração das coisas.
Assim, a passividade habitualmente associada ao ato da contemplação é substituída, com uma evidente mais-valia, por uma participação efetiva na (re)construção visual das obras apresentadas.
O plano pessoal ou íntimo não é o único em que assenta o trabalho de Paulo Moreira. Como destaca o artista plástico e professor universitário JJ Marques, curador da exposição, destas criações "emergem elementos visuais, plásticos, estéticos, políticos, sociais e outros, como manifestações (do passado) atualizadas e remontadas no presente".
O que resulta desta panóplia de elementos - autênticas camadas sobre camadas de uma realidade inesgotável - é não só "uma espécie de arqueologia da (própria) pintura, nos seus vestígios materiais, processuais e conceptuais", mas também "uma analogia com a prática do artista", com base no seu trabalho já anteriormente desenvolvido.
Após mergulhar nos seus arquivos pessoais, recuperando um conjunto de materiais como desenhos, poemas ou fotografias, o artista plástico nascido em Angola há 53 anos concretiza o esforço de temporalidade que atravessa todo o seu trabalho artístico.
Dir-se-ia que Paulo Moreira lançou um olhar retrospetivo como se procurasse tomar balanço para as mudanças que desejava operar. De entre estas, realce-se "a aproximação ao desenho", como sublinha JJ Marques, e o peso mais significativo do branco na construção dos espaços.
Blank dreams - Who"s afraid of the black canvas
Galeria Serpente. Rua de Miguel Bombarda, 558, porto)
Até sábado, dia 26