Crónicas da rubrica da TSF “Assim se faz Portugal” reunidas em livro. Apresentação é nesta terça-feira no Atrium Almedina Saldanha, em Lisboa.
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Há sátira, reflexão e humor, mas há sobretudo um país representado nas crónicas de “Assim se faz Portugal”, a rubrica da TSF emitida entre março e julho de 2023 que agora ganhou um novo registo com a edição em livro, pela chancela da Minotauro, já depois de ter dado origem também a um podcast.
Com apresentação marcada para esta terça, às 18.30 horas, na Almedina Atrium Saldanha, em Lisboa, o livro é o culminar de uma sucessão de desafios – primeiro, da TSF a Maria Rueff, incumbida da leitura dos textos, que, por sua vez, instou quatro escritores (Luísa Costa Gomes, Filipe Homem Fonseca, Afonso Cruz e Manuel Monteiro) a darem largas à sua arte.
O resultado são textos que discorrem ao sabor dos dias que passam, com um olhar muitas vezes crítico, mas, acima de tudo, apurado para o que nos rodeia e tantas vezes nos escapa.
No meio do turbilhão noticioso, cada um dos autores propõe aos ouvintes (e agora aos leitores) um instante de reflexão. Que pode assumir múltiplas formas, de acordo com o estado de espírito de cada um dos escritores.
Numa das crónicas, a propósito da escassez crescente de água, Filipe Homem Fonseca escreve sobre a forma como “várias empresas têm vindo a ensaiar a ideia e a prática de água enquanto bem de luxo”, relembrando o preços estapafúrdio de 60 mil euros a que chegou a “Acqua di Cristallo Tributo a Modigliani”.
O quotidiano está quase sempre presente nestas breves reflexões. Manuel Monteiro escreve sobre a forma como a tecnofilia está a invadir todas as camadas sociedades e lembra como, numa simples conversa de café com um amigo, ele começou a dizer “tou? tou? tou?”, após um breve silêncio da sua parte, como se estivesse numa conversação telefónica.
O autor enumera mais exemplos, tão divertidos como preocupantes: ”Já passei o jornal a uma amiga para ler uma notícia e reparei que ela mexia com os dedos para ampliar a letra, como faz no telemóvel”. Mais bizarro ainda será o exemplo de um outro colega, que “deu por si a clicar no canto superior de uma página de papel, como se estivesse a fechar uma página da Internet”.
Pelas páginas de “Assim se faz Portugal” há também amplas referências ao processo de turistificação em curso, o proverbial desenrascanço lusitano e as embirrações que nos acompanham no quotidiano.