O ator brasileiro Rafael Silva é o protagonista do novo filme independente "Os Compatriotas", que se estreia, esta terça-feira, nas plataformas de streaming e aborda a questão da imigração ilegal e da agência ICE nos Estados Unidos.
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"A mensagem do filme é muito simples", disse o ator em entrevista à Lusa. "O que podemos entender nesse mundo caótico, político, de tantas divergências que vemos hoje, é que no final do dia nós somos compatriotas, nós somos cidadãos, vivemos no mesmo país, somos vizinhos", afirmou. "No final do dia, ser latino ou ser imigrante é ser um ser humano também".
Rafael Silva, que tem no currículo filmes como "Don"t Look Up" ("Não Olhem para Cima") e "Mulherzinhas", dá corpo a Javi, um imigrante nos Estados Unidos que não tem documentação legal e enfrenta a ameaça de deportação.
A longa-metragem escrita e realizada por Spencer Cohen explora a complexidade de ser imigrante, a busca por um sentimento de pertença e o medo das rusgas da agência de imigração ICE, algo que tem estado na ordem do dia em grandes cidades como Los Angeles.
O ator brasileiro identificou-se com o tema, porque a sua própria família emigrou quando ele ainda era criança.
"A gente veio do Brasil e muita da história que você vê no filme é a minha história também", explicou. "Eu vivi muitas experiências dessas. Experiência de 'bullying', experiência de não se sentir parte do grupo, de se sentir um pouco fora".
Além das circunstâncias legais, Javi também tem de lidar com a sua sexualidade, tendo um pai (interpretado por Alfredo Huereca) que inicialmente não é muito compreensivo mas depois muda de atitude. Silva considerou importante que o filme estimule conversas sobre este tema.
"Independentemente do seu status migratório no país, de onde você veio e da sua sexualidade, você é um ser humano e tem um valor incrível", resumiu o ator. "Se você for olhar, todos nós somos imigrantes", salientou, indicando que as populações indígenas são as únicas que não imigraram de algum lado para os Estados Unidos.
Produzido por Jennifer Potts e Alberto Sayan, "Os Compatriotas" tem recebido prémios em vários festivais de cinema, incluindo o San Antonio Film Festival, Chelsea Film Festival e Woods Hole Film Festival.
O tema da imigração foi inspirado precisamente por Alberto Sayan, melhor amigo do realizador Stephen Cohen nos tempos de escola, que acabou por ser protegido da deportação através da DACA - Deferred Action for Childhood Arrivals, lei assinada pelo então presidente Barack Obama em 2012.
"Eu diria que é uma história que fala diretamente ao coração, aos problemas que nós vivemos no dia-a-dia", descreveu Rafael Silva. "E a minha razão de me envolver em cinema, em teatro, em arte, é para mudar a nossa realidade, apontar o dedo à desigualdade e pobreza, aos tantos problemas que existem no mundo", afirmou.
O ator contou que, numa das cenas finais, chegou a emocionar-se com as palavras do seu personagem, que disse a um opositor ser tão americano quanto ele. "Crescemos juntos, vivemos essa vida aqui juntos, mas por causa de um papel eu não sou humano o suficiente?", recordou.
Além de Rafael Silva como protagonista, o filme tem no elenco Denis Shepherd, que interpreta o seu melhor amigo, Hunter, Caroline Portu, que dá corpo a Tracy, e Dakota Lustick, no papel de Ryan.
"Os Compatriotas" estreia-se hoje nos Estados Unidos e Canadá, com expansão internacional para a Europa e Austrália já prevista.