Assumiu por diversas vezes que o teatro era o que mais gostava de fazer mas os palcos não foram o único "amor" de Eunice Munoz. A atriz também "brilhou" na televisão e no cinema para milhões de espetadores.
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"Fui feliz em tudo o que fiz", afirmou em diversas entrevistas.
Foi "Dona Branca" em "A banqueira do povo", na novela da RTP, em 1993, inspirada na história da agiota dos anos 80 condenada por crimes de burla agravada que marcou a sociedade portuguesa e também a carreira de Eunice Muñoz. A personagem "Dona Benta" foi o seu primeiro grande destaque em televisão.
Seis anos depois, em 1999, "Em todo o tempo do mundo", na TVI, foi Maria do Sá Couto, a pianista e grande amor de "Leonardo" (Ruy de Carvalho). Até 2020, Eunice participou em mais 15 novelas: "Porto dos Milagres" da Rede Globo e as restantes da TVI. Na última, em 2020, fez de Cacilda em "Quer o destino".
Em novembro, já doente, enquanto contracenava com a neta, Lídia, a sua última peça de teatro, também gravou a última participação especial na novela "Festa é festa" (em exibição na TVI) em que contracenou com Maria do Céu Guerra.
"Tantas vidas"
"Cada trabalho para ela era uma aventura e isso era muito bonito", afirmou Maria do Céu Guerra à TSF. A atriz recordou que estava "muito aflita" nas últimas gravações com Eunice Muñoz por esta já estar muito debilitada. "De repente apareceu-me maquilhada, maravilhosa, linda, luminosa e fizemos uma cena em que improvisámos, rimos e fomos nós e a outra, a personagem e a atriz. Foi um momento especial. Eu estava emocionadíssima", contou.
"Tantas vidas", disse Manuel Luís Goucha numa das últimas entrevistas de Eunice, em março à TVI, referindo-se às múltiplas personagens que a atriz interpretou durante 80 anos. "Nunca lutou contra uma personagem?", perguntou-lhe o apresentador. "Não, mesmo quando elas eram fraquinhas tentei tratá-las o melhor possível. Era a minha missão. Mesmo quando eram um estupor, defendi-as sempre", respondeu-lhe Eunice Muñoz, rindo-se.
"Há pessoas que não deviam morrer, tanta é a falta que fazem à vida", escreveu ontem, Manuel Luís Goucha, na sua conta no Instagram depois de divulgada a morte da atriz.
Eunice chegou a assumir que não tinha "uma paixão desmesurada pelo cinema". Na sua longa carreira, participou em 16 filmes. A estreia aconteceu em 1946, pela mão do realizador Leitão de Barros - fez de Beatriz da Silva, nobre e santa portuguesa do século XV no filme "Camões". O último projeto que abraçou para o "grande ecrã" foi "Entre os Dedos", de Tiago Guedes e Frederico Serra, em 2008.