"Minha irmã, minha amiga, partiste sem me despedir", lamentou Ruy de Carvalho, horas após saber da morte de Eunice Muñoz, através das redes sociais.
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Com um excerto do videoclipe do single de Rogério Charraz "Quando formos velhinhos", gravado em 2020, recordou ainda "a última vez" que dançaram juntos. "Tu serás eterna", rematou o veterano ator, por escrito, pois a filha Paula Carvalho fez saber que "desta vez foi muito forte" e ele "não consegue falar".
No último ano, foram muitos os colegas de profissão que Ruy de Carvalho, de 95 anos, viu partir, mas a perda de Eunice Muñoz é a maior. Acontece quase um mês depois de ele próprio ter celebrado mais um aniversário. Nesse dia, confessou ao JN que o segredo da longevidade está em "não pensar na morte". "A vida é para ser vivida, só morremos na altura que tiver de ser. Quando vier a morte, vem. Nós partimos e descansamos", afirmou.
Assim fez a companheira Eunice, de quem sempre foi próximo. Serem da mesma geração e terem crescido e assinar carreiras paralelas alimentou a cumplicidade e uma amizade com mais de 70 anos. Em agosto do ano passado, quando Eunice Muñoz esteve internada vinte dias -na altura por precaução por ter dado sinais de fadiga e fragilidade, Ruy de Carvalho manifestou-se feliz pela recuperação, depois de ir sabendo do seu estado através de "família e amigos". Nessa noite, dedicou-lhe o espetáculo "Ratoeira", que subiu ao palco em Lagos.
Juntos, em 1957, Ruy de Carvalho e Eunice Muñoz ingressaram no Teatro Nacional Popular, sob a direção do encenador Fernando Ribeiro (Ribeirinho), e muitos trabalhos partilharam ao longo de décadas no teatro e na televisão. Na novela da TVI "Destinos cruzados", Eunice deu vida a Maria Helena, o amor do passado de Inácio, que Ruy interpretou, anos depois de se terem estreado na ficção da estação em "Todo o tempo do mundo" e de terem feito também "Sonhos traídos". Curiosamente, deixaram de ser exclusivos do canal ao mesmo tempo, em 2012.
Na vida real, nutriam um sentimento fraternal que somou mais memórias ao legado em comum, inspirando o documentário "Viagem ao Princípio", que a RTP estreará em breve. O projeto tem os dois como protagonistas e foi "filmado em palcos históricos como o D. Maria II, o Trindade e o Teatro Romano de Mérida, ou na intimidade de camarins e casas dos próprios". Como coautor, Luís Filipe Borges descreve-o como "uma jornada de duas lendas que têm consigo na bagagem a consciência coletiva de um povo inteiro".