Estreou esta semana nas salas de cinema nacionais a primeira longa-metragem da senegalesa Ramata-Toulaye Sy.
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Uma desejada renovação do cinema africano é algo para o qual a comunidade cinematográfica internacional, dos profissionais aos frequentadores das salas, olha há algum tempo com bastante atenção, curiosidade e, não se pode ignorar, alguma inquietação.
É verdade que, como na Europa não se pode comparar o cinema português com o norueguês, a designação "cinema africano" é muito genérica. Mas há algo em comum, com um continente a ressurgir dos traumas do colonialismo, mas a fazer também face a inúmeros governos autoritários, a uma imposição por vezes brutal de cânones religiosos e rituais ancestrais, a uma subordinação da mulher a poderes patriarcais, a conflitos armados sem fim.
O cinema, raras vezes prioridade das medidas governamentais de grande parte dos países africanos, que têm ainda de fazer face a condições climatéricas e de terreno pouco favoráveis, é por vezes, e por tudo o que referimos, encarado com uma certa condescendência. Felizmente, há jovens autores que respeitam o cinema como forma de expressão criativa, e uma das estreias desta semana é um excelente exemplo..
“Banel & Adama”, escrito pela senegalesa Ramata-Toulaye Sy, nascida em Paris e que aqui se estreia na longa-metragem, com passagem pela competição de Cannes, segue as personagens que dão título ao filme. Banel e Adama estão apaixonados. Vivem numa aldeia remota no norte do Senegal. É tudo o que conhecem do mundo, para eles nada mais existe. Mas o amor absoluto que os une vai chocar com as convenções da comunidade. Porque, no espaço onde vivem, não há lugar para a paixão e muito menos para o caos...
História afinal universal, a de amores proibidos, que atravessa continentes, religiões e modos de vida, “Banel & Adama” tem a vantagem da sua realizadora não cair no miserabilismo ou no maniqueísmo, jogando pelo contrário, de forma poética e visualmente enriquecedora, com a cultura local, em toda a sua expressividade.