<p>O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, prestou hoje, terça-feira, homenagem à escritora Matilde Rosa Araújo.</p>
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Numa mensagem divulgada no sítio online da Presidência da República, Cavaco Silva apresenta, em seu nome, da mulher, e do povo português, "sentidas condolências à família" da escritora que faleceu na madrugada de hoje, terça-feira, em casa da irmã, em Lisboa.
Matilde Rosa Araújo "ganhou o respeito dos seus pares e de todos os inúmeros leitores de diferentes gerações que apreciaram os seus livros", salienta o Chefe de Estado.
"É, pois, muito justo que, neste momento de luto, preste a minha homenagem a uma mulher merecedora do respeito de todos os que acompanharam o seu percurso pessoal e profissional", conclui Cavaco Silva na mensagem.
A ministra da Educação, Isabel Alçada, considera que Matilde Rosa Araújo "teve um efeito extremamente importante na sensibilidade dos professores e na forma como os livros são lidos na sala de aula".
Na opinião da ministra da Educação, que falava à margem de uma iniciativa no âmbito do programa Novas Oportunidades, em Lisboa, a escritora "deu um contributo maravilhoso para a nossa literatura e para a forma como os adultos se relacionam com as crianças".
Confessando-se "muito comovida com a notícia" da morte de Matilde Rosa Araújo, a ministra e também escritora de livros para as crianças e os jovens, afirmou que ela era "uma pessoa com uma grandeza de alma extraordinária", por quem "tinha a maior admiração".
“Ficará para sempre na nossa memória”
O comissário do Plano Nacional de Leitura (PNL), Fernando Pinto do Amaral, considerou Matilde Rosa Araújo "uma figura de referência da literatura para crianças" e uma escritora de "enorme talento, imaginação e sensibilidade".
"Era certamente uma das pessoas que mais contribuíram para o gosto pela leitura entre os mais pequenos", disse à agência Lusa Fernando Pinto do Amaral.
Para o sucessor de Isabel Alçada no comissariado do PNL, Matilde Rosa Araújo "tinha um enorme talento, imaginação e uma requintada e fina sensibilidade".
"A sua literatura para crianças e jovens é absolutamente notável. Ficará sempre na nossa memória", afirmou.
A fada-madrinha da literatura infantil
A escritora Matilde Rosa Araújo, hoje falecida aos 89 anos, "era a medida padrão para a literatura infanto-juvenil", disse o escritor António Torrado.
Torrado, que era amigo da escritora, acrescentou : "A Matilde foi a fada-madrinha para a literatura infantil". A escritora "nunca procurou a fama ou o 'best-seller' e encarou a literatura como um sacerdócio", e "acarinhou sempre os escritores jovens", disse.
"Matilde Rosa Araújo soube fazer o que Sebastião da Gama, de quem foi amiga, disse em relação ao professor: 'ser professor é ser'; e Matilde foi professora com dedicação total e também como escritora. Ser escritora é ser."
Para António Torrado o título "O livro da Tila", de 1957, "inaugurou uma modalidade poética séria para as crianças, sem ceder à poesia infantilizante que se fazia".
"A poesia para as crianças tem a mesma exigência e qualidade que para os adultos", acrescentou. Torrado referiu dois títulos da autora: "O sol e o menino dos pés frios" e "Fadas verdes".
"Responsável pela reinvenção do imaginário infanto-juvenil"
O presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, referiu "a enorme perda" que significa a morte de Matilde Rosa Araújo, responsável "pelo inventário e reinvenção do imaginário infanto-juvenil".
José Manuel Mendes destacou os "caminhos que Matilde Rosa Araújo abriu", pela "extrema qualidade do seu trajecto enquanto docente e escritora da juventude, que não deixam na penumbra os seus escritos poéticos".
"Era uma mulher de grande abertura ao mundo, incrivelmente generosa e participativa", contou o presidente da Associação Portuguesa de Escritores.
Revelando sentir uma "ternura infinita" pela autora, descreveu-a como "uma leitora infatigável, uma mulher da cultura, muito solidária", cuja visão "muita arejada" lhe permitia um outro olhar sobre os problemas que se colocam aos autores no seu processo criativo.
"De alguma forma, tínhamo-la como uma grande decana das letras portuguesas, associada a uma tradição que nunca entravava o futuro, mas pretendia renová-lo", concluiu.
"Deixa um legado de belíssimos livros"
Ana Maria Magalhães, autora de livros infanto-juvenis, revelou-se "tristíssima" pelo falecimento da Matilde Rosa Araújo, que deixa como legado de "belíssimos livros para crianças, belíssimos poemas e um rasto muito singular de doçura e simpatia".
Pouco dias depois de publicarmos o nosso primeiro livro, "Uma Aventura na Cidade", recebemos um cartão a felicitar-nos pela alegria do nosso livro para as crianças. Ficámos surpreendidas e encantadas, pois ainda éramos professoras primárias desconhecidas", contou.
Um contacto repetido ao longo dos anos. Matilde Rosa Araújo foi professora da filha de Ana Maria Magalhães no colégio João de Deus.
"Era uma pessoa muito especial. Encontrá-la em qualquer lado era um prazer porque ao pé dela estava-se sempre bem", realçou a autora.
"É uma espécie de mãe que nos morre"
A notícia da morte de Matilde Rosa Araújo foi recebida com "grande tristeza" pela escritora Luísa Ducla Soares, que a considerava "uma espécie de mãe" para os autores da literatura infantil em Portugal.
"É uma espécie de mãe que nos morre porque ela encontrava sempre uma forma de ajudar os escritores mais novos, não só no sentido intelectual como afectivo", recordou Luísa Ducla Soares, à Lusa. "Às vezes era tão boa, tão benévola, que até era difícil ser júri de prémios literários com ela porque encontrava algo de positivo até nas coisas más", recordou a escritora de 71 anos.
"Era uma pessoa que nasceu para encontrar o bem e para o espalhar", mas, ao contrário do que se pensa, "era muito divertida no convívio", acrescentou. "Era uma fonte de graça e humor, por oposição à faceta doce, carinhosa e melancólica que a maioria das pessoas conheceu", descreveu, sobre a amiga de décadas.
Na obra, as preferências de Luísa Ducla Soares vão para a poesia, sobretudo "O Livro da Tila" e "O Cantar da Tila".
"Dedicou uma vida inteira às crianças"
A escritora Adélia Carvalho lembra que " Matilde Rosa Araújo dedicou uma vida inteira às crianças" e que "são poucas as pessoas que puseram o dedo na ferida".
"É com emoção que lido com a perda da Matilde , mas sinto-me uma privilegiada por ter partilhado muitos e bons momentos com ela", afirmou Adélia Carvalho à Lusa.
Adélia Carvalho lançou, este ano, o livro " Matilde Rosa Araújo : Um olhar de menina", uma narrativa com pequenos fragmentos da vida pessoal daquela escritora, em particular da sua infância, com as personagens que criou na sua obra literária.