Na casa de espetáculos vimaranense o palco foi dessacralizado, o público foi convidado para tomá-lo de assalto e cada canto tem servido como lugar de apresentação.
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Faz esta quarta 20 anos que os Madredeus subiram ao palco do grande auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), para o primeiro espetáculo naquela casa que acabaria por se tornar num ícone da cultura na cidade de Guimarães. O diretor artístico, Rui Torrinha, esteve em 15 desses 20 anos e acredita que, mais do que apenas um espaço físico, o CCVF tornou-se num "recurso para ampliar ideias". O programador reconhece que a missão do centro depende da visão política, mas na sua opinião, "Guimarães devia continuar a investir na arte contemporânea" que, não tem dúvida, "gerou projetos que se tornaram identitários". ""Carnación" da coreógrafa e bailarina espanhola Rocío Molina em colaboração com o cantor Niño de Elche, apresenta-se hoje, às 21.30, para marcar a data.
O diretor artístico do CCVF, Rui Torrinha, está no lugar há 15 anos, "mais do que seria normal para um cargo como este", reconhece. "Não é porque não pudesse estar noutros lugares, eventualmente mais bem pagos, é porque acredito que isto é mesmo importante, que construímos aqui um lugar de resistência", afirma. A longevidade garante-lhe uma posição privilegiada para falar sobre o CCVF, a sua relação com a cidade e os vimaranenses e sobre as ambições para o futuro. Admite que "houve uma visão política para a cultura que possibilitou qualificar Guimarães enquanto referência internacional".
"Vamos acolher, em 2026, o Spring Foward Festival, o mais importante a nível europeu para coreógrafos emergentes. Isto só é possível porque Guimarães alcançou uma reputação que lhe permite captar este tipo de eventos", referiu. Instado a projetar o futuro, Rui Torrinha volta a frisar a necessidade de uma visão política e deixa um aviso: "Guimarães não deve deixar de investir na arte contemporânea que criou marcas - Guidance, Westway Lab, Guimarães Jazz, Manta - identitárias".
Democratizar a cultura
Apesar de o CCVF, em 2005, ter sido inaugurado com espetáculo de um grupo, os Madredeus, que foi um fenómeno de massas e de assinalar os vinte anos com um espetáculo de dança assinado por uma coreógrafa cujo nome não diz nada ao cidadão comum, Rui Torrinha sempre negou as acusações de elitismo. "Pelo contrário, o que fazemos é democratizar a cultura", defendeu. O programador diz que o CCFV traçou um caminho de busca de posicionamento: "Começamos por oferecer o que faltava e acabamos por tornar o espaço num criador de mais-valias". Segundo Rui Torrinha, apareceram um conjunto de eventos que diversificaram e qualificaram a oferta ao ponto de tornar os públicos mais exigentes.
Centro do mundo
Com um orçamento mais limitado do que a Casa da Música ou o Centro Cultural de Belém, Rui Torrinha diz que é preciso imaginação e criatividade. Lembra o espetáculo de Laurie Anderson (durante a Capital Europeia da Cultura 2012) como "um momento em que tivemos, pela primeira vez, a sensação de que Guimarães podia ser o centro do mundo". Recorda também o concerto dos The National, a estreia, em tempo de pandemia, de "Catarina e a beleza de matar fascistas", com duas noites de casa cheia e as cinco passagens da companhia belga Peeping Tom, "sempre a criar espanto".
Para marcar o ANIVERSÁRIO, a coreógrafa e bailarina espanhola Rocío Molina apresenta "Carnación", às 21.30, no grande auditório. Um espetáculo criado em colaboração com o cantor Niño de Elche, que conta com três músicos em palco e a participaçãodo BJazz Choir, um núcleo artístico de Guimarães. Dar oportunidade às gentes da cidade para explorarem a caixa de palco e tirar os artistas de lá, tem sido uma marca do CCVF, veja-se o Manta. Amanhã, às 18 horas, "Bailar em casa", é um convite para quem quiser aparecer para dançar em cima do palco do CCVF.
Tanto "Carnación" como "Bailar em casa" são de entrada gratuita, limitados pela lotação. Para o espetáculo de dança de hoje é preciso levantar bilhetes (limitado a dois por pessoa).