Com uma participação em menor quantidade do que tem sido habitual nos últimos anos, a presença portuguesa na Berlinale concentrou-se em grande parte neste primeiro fim-de-semana do festival.
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É este domingo ao fim da tarde que passa pela primeira vez “Duas Vezes João Liberada”, de Paula Tomás Marques, a concurso na secção "Perspetivas", dedicada a primeiras obras. Maria de Medeiros teve uma participação num filme belga a concurso, Vicente Wallenstein terminou as suas atividades no programa dos Shooting Stars e o documentário peruano “A Memória das Borboletas”, com presença da portuguesa Oublaoum de Ico Costa na produção, também teve a sua primeira projeção internacional.
Apesar da estreia para o público em geral ter lugar apenas na próxima terça-feira, a imprensa já verá hoje ao fim do dia a primeira longa de Paula Tomás Marques, a concurso na nova seção, "Perspetivas", que substitui a anterior "Encounters". O filme segue João, uma atriz lisboeta, que protagoniza uma biografia sobre Liberada, uma dissidente de género perseguida pela Inquisição portuguesa no século XVIII.
Maria de Medeiros, que não veio a Berlim, tem uma presença significativa na parte final de “Reflet dans un Diamant Mort”, produção belga de Hélène Cattet e Bruno Forzani. Não será no entanto pelo papel da nossa atriz mais internacional que o filme se revela um enorme desastre, não se percebendo com que critério aparece a concorrer ao Uraso de Ouro. É quase insultuosa a falta de qualidade de o que se pretendia ser um filme de ação e mistério, com influências da banda desenhada e do cinema de Tarantino, mas que, ao longo de felizmente apenas hora e meia de tormento, não consegue sequer ser entretido. Para se perceber melhor, qualquer um dos nossos “Balas e Bolinhos” faria melhor figura na seleção de Berlim. Provavelmente, os seus produtores nunca ousaram propô-lo…
Se Maria de Medeiros há mais de três décadas que vem fazendo filmes nos quatros cantos do mundo, Vicente Wallenstein está agora a dar os seus primeiros passos. O seu papel no filme de Luís Filipe Rocha, “O Teu Rosto Será o Último”, valeu-lhe uma nomeação do Instituto do Cinema Audiovisual ao programa Shooting Stars, organizado pela European Film Promotion.
Com uma forte concorrência de todos os países da União Europeia, selecionando apenas dez jovens talentos emergentes de outros tantos países que a compõem, Vicente Wallenstein foi um dos escolhidos, tendo passado os últimos dias em contactos com agentes de casting, com a imprensa internacional e com outras figuras do mundo do cinema. Ao JN, confidenciou que os atores portugueses levam uma grande vantagem face a colegas de outros países, pela sua facilidade com as línguas, assumindo ter como objetivo a internacionalização do seu trabalho.
Enquanto isso, também já passou, no Forum, o documentário “La Memoria de las Mariposas”, da peruana Tatiana Fuentes Sadowski, que toca nas questões coloniais através da descoberta da fotografia de dois indígenas da amazónia peruana que há um século foram enviados para o Reino Unido, como “espécimenes locais”. Utilizando apenas imagens de arquivo, que encontrou também em Portugal, no Arquivo Nacional das Imagens em Movimento, da Cinemateca Portuguesa, a realizadora e a sua equipa obtiveram ainda apoio do ICA para a finalização do seu trabalho, em colaboração com a Oublaoum, de Ico Costa. Um projeto que passou na sua fase de desenvolvimento pelo Indie Lisboa e que teremos seguramente oportunidade de ver em Portugal.