Foi anunciada a seleção oficial da 75.ª edição do festival francês, para já sem nomes portugueses.
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É o regresso à normalidade. Depois de não haver festival em 2020 e de uma edição especial realizada em julho do ano passado, o Festival de Cannes regressa ao seu espaço natural, a segunda quinzena de maio (de 17 a 28), e logo para comemorar a 75.ª edição.
Para celebrar a data redonda, o festival acolherá, no dia 24, um grupo alargado de realizadores e atores, num encontro onde se debaterá a questão de saber o que é ser realizador hoje e qual o papel dos festivais. Cannes 2022 será ainda a última edição que terá como presidente Pierre Lescure, que será substituído por Iris Knobloch, escolha que já levantou várias dúvidas, dado o seu passado sobretudo do lado mais "comercial" do cinema.
É nesse equilíbrio entre o artístico e o industrial que se jogará uma vez mais o Festival de Cannes, mas com uma lista de candidatos à Palma de Ouro a toda a prova. Thierry Frémaux, que continuará a ser o diretor artístico do festival, revelou os primeiros 18 títulos, saídos de mais de 2200 longas-metragens submetidas, vindas de 185 países. Na próxima semana serão anunciados mais títulos que completarão a programação mas parece que, uma vez mais, e desde "Juventude em marcha" de Pedro Costa (2006), não teremos filmes portugueses na competição oficial.
Regresso de vencedores
De qualquer forma, há títulos que vão ter em Cannes a estreia mundial e que estão já a fazer crescer água na boca dos cinéfilos de todo o mundo. É o caso de "Crimes of the future" de David Cronenberg, com Léa Seydoux, Viggo Mortensen e Kristen Stewart e classificação de NC17 nos Estados Unidos, indicando algo de muito forte, como é costume na obra do canadiano.
James Gray também está de volta a Cannes com "Armageddon time", com Anthony Hopkins e Anne Hathaway, uma história sobre o que foi crescer no bairro nova-iorquino de Queens nos anos de 1980. E há também o regresso de vários realizadores já vencedores da Palma de Ouro: os belgas Jen-Pierre e Luc Dardenne, com "Tori and Lokita", sobre dois jovens africanos exilados na Bélgica; o romeno Cristian Mungiu, com "R.M.N.", sobre o impacto da política europeia numa pequena aldeia fronteiriça; o sueco Ruben Östlund, com "Triangle of sadness", uma comédia política sobre a globalização, interpretada por Woody Harrelson; e o japonês Koreeda Hirokazu, com "Broker", um road movie filmado na Coreia do Sul.
A situação atual da guerra na Europa não escapou a Cannes, que seleciona para a competição "Tchaikovsky"s wife", de Kirill Serebrennikov, inimigo declarado de Putin e que, fugido do seu país, vive hoje em Berlim. Também o ucraniano Sergei Loznitsa, que já filmou em Portugal, verá exibido o novo filme, "The natural history of destruction" mas fora de competição. De outro ucraniano, Maxime Nakonechnyi, será mostrado, na secção Un Certain Regard, "Butterfly vision", um filme premonitório do que se passa hoje em dia.
Os pretendentes à Palma de Ouro incluem ainda os veteranos Claire Denis, Jerzy Skolimovski (de regresso à Polónia natal e ao cinema depois de se dedicar vários anos à pintura), e ainda os iranianos Ali Abbasi e Saeed Roustaee, os franceses Valeria Bruni Tedeschi e Arnaud Desplechin, o belga Lukas Dhont, o italiano Mario Martone, o sul-coreano Park Chan-wook, a americana Kelly Reichardt e o egípcio Tarik Saleh.
Cannes abre no dia 17 com "Z (comme Z)", de Michel Hazanavicius, uma comédia sobre uma equipa a fazer um filme sobre zombies que é atacada por zombies a sério. Depois de "Titane" o ano passado, Cannes continua a render-se ao cinema de horror.