Suecos trazem raiva e amor ao primeiro grande concerto da segunda noite. 16 mil pessoas compareceram no primeiro dia.
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"Clawfinger - Rap metal desde 1993". Eram estas as palavras inscritas num emblema semelhante ao de um clube da NBA que serviram de fundo ao concerto dos suecos - que deram verdade a uma célebre frase dos anos 1980: "Os hippies são más pessoas a fazerem de conta que são boas. Os punks são boas pessoas a fazerem de conta que são más". Porque a banda oriunda de Estocolmo tem postura visceral e agressiva, mas o seu coração derrete-se mais depressa do que um sorvete. Foi o número icónico do início da segunda noite de Vilar de Mouros.
a ferver de emoção
"É tão bom estar entre vós, seus... filhos da cozinheira. Já não vínhamos cá há... corrimões", Zak Tell, careca desembestado que cospe para o ar e apanha as bisgas, sorrindo como gaiato ranhoso, passou pela discoteca Via Rápida, no Porto, em finais dos anos 1990, e não há registo de ter voltado ao Norte do país. Fervia de emoção com o regresso, dizendo a cada passo "vocês estão lindos" e arrancando para nova enxurrada de pausas e acelerações que envolviam um discurso disparado a lembrar o monólogo frenético de Samuel Beckett "Não eu". Ar de celerados, o baixista com visual de náufrago em ilha deserta, cabelo a circular como roda de moinho, Zett a passar metade do concerto entre o público, são no entanto uns doces - e tudo começou, para os Clawfinger, no hospital Rosenlund, em Estocolmo, "onde nos conhecemos todos numa época em que cuidávamos de idosos". Boas pessoas a fazerem de conta que são más pessoas, portanto.
non Talkers tépidos
A abrir a segunda noite do festival, para umas poucas centenas de espectadores, onde se descobriam alguns curiosos pares - pai e filho com t-shirts de Pink Floyd e Nirvana, o mais novo ostentando a dos criadores de "Atom heart mother", o mais velho com a capa de "In utero" ao peito -, atuaram os vizinhos Non Talkers, duo de Viana do Castelo que é também um casal: Marco (português) e Evita (belga) conheceram-se na Grécia em contexto musical e avançaram para o seu projeto de pop-folk, cujo último fruto é "Roots", álbum que serviu de guia para o espetáculo.
São baladas tépidas e telúricas servidas pelas duas vozes em alternância e acompanhadas pela banda, que inclui violino e teclados. Para recordarem o Woodstock original, o de 1969, aquele que inspirou o "Woodstock português", que foi o Vilar de Mouros de 1971, aventuraram-se por uma versão de "Piece of my heart", de Janis Joplin. Foi um momento simpático, caseirinho, com o povo a chegar em vagas mornas e lentas ao recinto.