Estreia esta quinta-feira o drama "Com a alma na mão, caminha", da iraniana Sepideh Farsi, sobre a tragédia de Gaza. A protagonista Fatima já foi entretanto morta pelo exército israelita.
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Sepideh Farsi é uma realizadora iraniana, nascida em 1965. Passou oito meses na prisão por ter escondido um colega de estudo após os massacres que se seguiram à revolução islâmica de 1979. Fez um documentário sobre a vida na cidade, filmado com um telefone, devido às restrições ao cinema. E acabou por deixar o Irão para estudar matemática, dedicando-se mais tarde à fotografia e ao cinema.
Em 2023, mostrou em Berlim a longa-metragem de animação "The Siren", que acompanhava um garoto durante o início da guerra entre o Irão e o Iraque, em 1980. Apesar de não ser desenhadora ou animadora, a realização do filme mostra que nada é impossível no cinema. Infelizmente, o filme nunca estreou em Portugal.
Ativa politicamente, o genocídio em Gaza levou-a a tentar entrar no território, para conseguir filmar e transmitir para o exterior toda a tragédia de um povo e de uma terra. Como infelizmente não conseguiu, passou alguns meses no Cairo, onde conseguiu manter contacto por videochamada, e durante vários meses, com a jovem Fatima Hassouna, que se encontrava em Gaza.
Luminosa e cheia de esperança, apesar da realidade envolvente, Fatima entregava-se à fotografia, com imenso talento e sensibilidade, captando o que se passava à sua volta. Sepideh Farsi fez um filme com essas videochamadas, intitulado "Com a Alma na Mão, Caminha".
No dia a seguir ao anúncio da seleção do filme para o Festival de Cannes, Sepideh perdeu o contacto com Fatima. A jovem tinha sido morta, juntamente com quase uma dezena de pessoas da sua família, num ataque do exército israelita...
Perante uma história e um filme assim, seria irrelevante falar de estética. É pelo contrário uma questão ética. A forma do filme de Sepideh Farsi não é a ideal - é a única possível. E a nossa posição, enquanto espetadores, só pode ser uma destas: ou virar a cara para não ver ou entrar na sala.
Ir ao cinema é também um ato cívico e de solidariedade.