Irmãos Arab e Tarzan Nasser estão em Lisboa a finalizar “Once Upon a Time in Gaza”.
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Depois do Prémio de Realização de Miguel Gomes o ano passado, por “Grand Tour”, o cinema português está ausente, para já, da competição de Cannes, cuja 78ª edição decorrerá de 13 a 24 de maio. No final da próxima semana será anunciado um complemento da programação.
No entanto, na segunda secção mais importante da seleção oficial, "Un Certain Regard", a Ukbar Filmes de Pandora da Cunha Telles estará representada, voltando a coproduzir, depois de “Gaza Meu Amor”, o novo filme dos irmãos palestinianos Arab e Tarzan Nasser, “Once Upon a Time in Gaza”. Trata-se de uma coprodução com a França, a Alemanha e a Palestina, com o apoio nacional do ICA e da RTP.
Segundo a primeira sinopse disponível, enquanto o Hamas aperta o controlo sobre Gaza, Yahia procura vingança pelo brutal assassinato do seu amigo Ossama. O seu encontro com o assassino vai alterar tudo. Os irmãos Nasser encontram-se, aliás, em Lisboa a terminar o seu filme, executando trabalhos de efeitos digitais, misturas de som e correção de cor.
E se as programações da Semana da Crítica e da Quinzena de Cineastas só serão anunciadas nos próximos dias, já há uma certeza, a de que o português Ary Zara é o corealizador de “A vaqueira, a dançarina e o porco”, de Stella Carneiro, uma das quatro curtas-metragens da região do Ceará, no Brasil, território selecionado para a Factory, dispositivo da Quinzena de Cineastas, que assinala este ano o seu décimo aniversário.
Recorde-se que este programa foi dedicado há dois anos ao Norte de Portugal e, como acontece sempre, a um realizador português juntou-se a um de outra nacionalidade. É o que acontece com Ary Zara, que com a sua curta-metragem de estreia, “Um Caroço de Abacate”, chegou a estar na "short list" dos Óscars.
Quase 40 mil profissionais do cinema
O anúncio da programação de Cannes foi feito numa conferência de imprensa, pela presidente do festival, Iris Knobloch, e pelo delegado-geral, Thierry Frémaux, principal responsável pela escolha dos filmes selecionados este ano, de entre as 2909 longas-metragens visionadas, um recorde na história do festival.
Iris Knobloch começou por sublinhar alguns dados que dão bem a medida da importância do festival de Cannes. Na edição anterior, estiveram presentes 39.000 profissionais do cinema, entre os quais 4200 jornalistas. O Mercado do Filme voltou a assumir-se como o mais importante do mundo, com 140 países representados.
A presidente de Cannes recordou ainda que filmes que estiveram presentes na última edição, como “Anora”, que venceria a Palma de Ouro, “Emilia Perez” ou “A Substância” teriam um percurso impressionante ao longo do ano. Só em França, 25 milhões de espetadores assistiram nas salas a filmes que tinham estado na seleção oficial de 2024.
Antes de começar a revelar os títulos deste ano, Thierry Frémaux não se esqueceu que em 2025 se cumprem 130 anos desde que os irmãos Lumière inventaram o espetáculo de cinema como hoje o concebemos. E, cinco anos após a pandemia de covid-19 e todas as suas consequências na indústria do cinema, com salas encerradas durante vários períodos, o cinema afinal não morreu.
No final da tarde do próximo dia 13 de maio, Cannes verá na sua cerimónia de abertura o filme de estreia de Amélie Bonnin, “Partir un Jour”. É a primeira vez que um primeiro filme terá essa honra. Quanto à competição, estarão presentes algumas figuras já habituais em Cannes, como Kelly Reichardt, Jafar Panahi, Sergei Loznitsa (não sobre a sua Ucrânia natal mas sobre o período estalinista, na URSS dos anos 30), Joachim Trier, Richard Linklater (“Nouvelle Vague”, sobre a rodagem de “A Bout de Souffle”, de Jean-Luc Godard), o brasileiro Kleber Mendonça Filho, Julia Ducournau (Palma de Ouro com “Titane”), Wes Anderson ou os irmãos Dardenne.
Nas outras secções da seleção oficial, "Sessões Especiais", "Sessões da Meia-Noite", "Cannes Premiere", "Fora de Competição" ou "Un Certain Regard", há ainda filmes de realizadores como Fatih Akin, Kirill Serebrennikov, Raoul Peck, Sebestian Lelio, Cedric Klapisch, ou o mestre da animação Sylvain Chomet.
Bono também estará em Cannes a apresentar “Stories of Surrender”, do mesmo Andrew Dominik que assinou o magistral “This Much I Know to Be True”, com Nick Cave. Scarlett Johansson estreia-se na realização com “Eleanor the Great” e Tom Cruise regressará em grande a Cannes com “Missão Impossível: O Ajuste de Contas Final”.