Não se sabe onde estão desenhos, pinturas e gravuras da coleção pública, que deveriam estar depositados na Direção Regional.
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Uma pintura de Dário Alves, um álbum de desenhos de Jorge Pinheiro e três gravuras de Fernando de Azevedo, Armando Alves e Armanda Passos, obras incluídas na coleção de arte contemporânea do Estado, estão perdidas na Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN). Fazem parte da lista das obras desaparecidas da denominada coleção SEC e são das poucas de que se conhece o último destino, segundo o relatório de inventário e análise da SEC elaborado pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), consultado pelo JN. Deveriam estar depositadas na DGPC.
No relatório - centenas de páginas com papéis oficiais, mensagens e ofícios - está transcrita correspondência em que se vão elencando tentativas para encontrar as obras desaparecidas destes artistas de trabalho reconhecido. Armando Alves e Jorge Pinheiro, por exemplo, fazem parte do grupo dos Quatro Vintes, os artistas que nos anos 60 terminaram Belas Artes, no Porto, com a classificação de 20 valores.
Questões por e-mail
Num e-mail enviado por uma das responsáveis pelo Departamento de Museus da DGPC ao chefe da Divisão da Promoção e Dinamização Cultural da DRCN, a 25 de novembro do ano passado, pede-se uma "atualização da informação quanto às obras não localizadas da coleção SEC em depósito na DRCN". A resposta deu conta da falta de resultados na busca. "Infelizmente não tivemos grandes progressos. Não há informações novas quanto às obras não localizadas. Ainda assim, continuo à procura junto dos arquivos, para a eventualidade de estar algo "mal-arrumado"", lê-se.
"Algumas falhas"
Duas semanas antes, a 7 de novembro, uma troca de e-mails interna da DRCN deixa ainda mais dúvidas quanto ao paradeiro dos trabalhos artísticos e mostra a confusão nos serviços.
A Divisão da Promoção e Dinamização Cultural, numa mensagem enviada aos Serviços de Bens Culturais, admite que o processo de atualização da lista de obras da coleção SEC tem tido "algumas falhas" e pede que alguém deste departamento "possa procurar, nas paredes dos gabinetes ou áreas comuns, ou nos espaços de armazenamento e arquivo da Casa de Ramalde" - onde está sediada a divisão dos Serviços de Bens Culturais - algumas das cinco obras perdidas no depósito da DRCN.
A coleção SEC, diz no e-mail, "foi mudando de localização, ao longo das últimas décadas, quando a então Delegação Regional veio para Vila Real e quando depois (...) se instalou parcialmente na Casa Allen", no Porto. A correspondência dá conta ainda do pedido de ajuda da DGPC para a localização de outras obras "cuja proveniência desconheçam".
Instados a comentar, o Ministério da Cultura e a DRCN não quiseram prestar declarações sobre esta matéria, que aliás tem sido tratada com grandes reservas pelo Governo.
Recorde-se que o ministério revelou que estão desaparecidas 94 obras pertencentes à coleção do Estado, número a que deverão ser somadas ainda 18 fotografias, também desaparecidas. Os dados foram apurado após uma investigação da DGPC, cujo relatório, cuja consulta foi limitada e que foi remetido ao Ministério Público.
Detalhes
62 obras encontradas
O inventário da coleção identificava, em 2011, 170 obras desaparecidas. Depois da terem sido identificadas 76, há agora 112 (94 obras e 18 fotografias) por localizar.
Quatro roubadas
Das 94 obras desaparecidas, quatro foram roubadas e três "aguardam cabal esclarecimento", explica a DGPC no relatório consultado pelo JN.