Estreia esta quinta-feira o enigmático thriller “Anatomia de uma queda”, da francesa Justin Triet, filme que está nomeado para cinco Oscars.
Corpo do artigo
Não há grandes voltas a dar, “Anatomia de uma queda”, thriller da francesa Justine Triet, é já um dos grandes filmes do ano e no próximo dia 10 de março pode ver o seu percurso coroado nos Oscars de Hollywood, já que concorre com cinco nomeações, feito não muito comum numa obra de origem não americana.
Em Cannes, não só arrebatou inesperadamente a Palma de Ouro como no seu discurso de aceitação de um dos prémios mais importantes do mundo do cinema a realizadora Justine Triet não deixou nada de pé na política para o cinema e para a cultura do governo Macron.
Talvez pouco ciente do impacto que as suas palavras teriam, Triet viu a “vingança” ser-lhe servida quente: a comissão indigitada para escolher o candidato francês ao Oscar de melhor filme internacional optou por outro título.
Nova “vingança”, agora servida fria: não só esse título não chegou aos finalistas como Triet, fruto do trabalho dos seus produtores nos EUA e da recolha de vários outros prémios, viu o seu trabalho nomeado para o Oscar de melhor filme, a que se juntam as categorias de realização e argumento, partilhado com Arthur Harari, interpretação feminina, para a assombrosa Sandra Huller, e ainda montagem.
O que tem de tão especial, então, “Anatomia de uma queda”? Para começar, um guião inteligente, fascinante e corajoso. A queda do título é a do marido de uma escritora alemã a viver em França, tombado para a morte da varanda da sua casa.
A anatomia será feita em tribunal, onde será chamada a única testemunha da ocorrência, o filho do casal, de 11 anos, que é parcialmente invisual, papel interpretado por Milo Machado Graner, um adolescente luso-francês.
Justin Triet filma de forma sóbria e rigorosa um caso judicial para cujo realismo investiu em centenas de horas passadas em tribunais. Dá vida a um género por vezes académico e sem sabor, nunca nos revelando na íntegra exatamente o que se terá passado. Cabe ao espetador decidir.
Curiosamente, a realizadora já revelou que em França toda a gente considera aquela mulher inocente, enquanto nos Estados Unidos todos pensam que é culpada. Como será entre nós?