Aos 63 anos, é uma lenda de Hollywood. Já fez mais de uma centena de filmes e foi nomeado para o Oscar de Melhor Ator, em 1994, pela sua representação de Ike Turner em “Eu, Tina”, ao lado de Angela Bassett. Mas os fãs dos filmes de culto irão para sempre recordá-lo como o Morpheus da saga “Matrix”.
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Agora, podemos vê-lo nos cinemas como o mentor de Rami Malek em “O Amador”, o thriller de espionagem de James Hawes. Laurence Fishburne esteve a conversar com o JN.
A sua personagem no filme, Henderson, tem um papel relevante no processo de luto e vingança de Charles Heller, interpretado pelo Rami Malek.
A minha personagem é uma surpresa, a começar para mim mesmo quando a li. Mas também para toda a equipa da CIA e para as pessoas que o Rami Malek anda a perseguir. E também acaba por se surpreender a si próprio, em relação ao que é capaz de fazer.
O Henderson é uma espécie de mentor para o Charles Heller. Teve algum mentor na sua vida pessoal?
Tive muitos mentores, alguns mesmo muito importantes. Para ser mais específico, há trinta anos tive a possibilidade de almoçar três dias seguidos com o Sidney Poitier. E nesses momentos em que passou comigo partilhou-me coisas que mais ninguém me poderia ter dado naquele momento da minha vida e da minha carreira.
Como por exemplo?
Sobre a responsabilidade de ser uma estrela neste mundo do espetáculo, se viesse a ser esse o meu caso. Foi algo que consegui interiorizar e deixar-me confortável com a ideia de os outros me verem dessa maneira. No caso do Sidney Poitier, tenho a certeza que foi o encontro dele com o Spencer Tracy e a Katharine Hepburn, quando fez o “Adivinha Quem Vem Jantar”.
Acha que há algumas semelhanças entre Prometheus e Henderson?
Penso que não há muitas semelhanças com a minha personagem de “Matrix”. Em muitos aspetos, “Matrix” é uma fantasia de ficção científica. Apesar de ser um espelho de muito do que estamos a viver hoje. “O Amador” é muito mais realista. É claro que é baseado num romance, escrito há várias décadas, mas adaptada ao momento em que vivemos. Os super-poderes que esta gente tem é a sua inteligência, não só intelectual, mas também emocional.
O filme vem recordar-nos como estamos todos a ser vigiados, algo que já sabíamos. É algo que o incomoda?
Eu nem sei trabalhar com um computador, por isso não dou muita atenção a isso.
O que pensou quando viu o filme pela primeira vez?
Tudo indica que não vai ter dificuldade em encontrar o seu público. Mas nunca se sabe bem porque um filme tem sucesso e outro não tem. É sempre um jogo, entre o que nós fazemos e o que vai acontecer depois, quando um filme chega aos cinemas. Mas quando o sucesso acontece, é brilhante e estou convencido de que isso vai acontecer com este filme. Está-se a falar imenso sobre o filme. Reuniu-se uma equipa magnífica para dar vida a esta história.
A sua personagem lida também com o lado mais negro do ser humano. Enquanto ator, como trabalha essas áreas?
Felizmente que é apenas representação. Ninguém quer entrar nessas áreas mais sombrias. É claro que todos nós, nas nossas vidas, temos um lado mais sombrio. É tudo uma questão de equilíbrio, de perceber qual dos nossos lados é o dominante. Jogar com isso também é o lado divertido do nosso trabalho de ator. Mas o mais importante é providenciar entretenimento a um público.
Até que ponto “O Amador” é também um reflexo do nosso tempo?
De certa forma, toda a gente é um “amador”, no sentido deste filme. Não propriamente no mundo da espionagem, mas em geral. Neste momento já estamos no final do primeiro quarto deste século. E no início toda a gente estava preocupada com o que ia acontecer no novo milénio. A internet e todas as novas tecnologias ainda são muito novas. As coisas estão a mudar muito rapidamente. A nossa indústria está a mudar muito rapidamente. O De certa forma, somos ainda todos amadores.