Com 26 anos, Rui é um dos três jovens com deficiência que sobe ao palco do teatro Narciso Ferreira, em Riba de Ave, Famalicão, este sábado à noite, para protagonizar o espetáculo de circo contemporâneo “Da Purga ao Marfim”.
Corpo do artigo
Rui, Pedro e Hélder são utentes do Centro Social de Ribeirão, instituição que aderiu ao projeto Panorama - Protagonizar Novos Riscos no Circo Contemporâneo do Instituto Nacional de Artes de Circo (INAC), que decorre no âmbito da candidatura Partis & Art For Change, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação la Caixa.
Depois do interesse da instituição em participar no projeto e das audições, os três jovens tiveram formação com os dois artistas profissionais com quem vão dividir o palco, Alan Sencades e Radarani Oliveira.
“Correu tudo muito bem. Quando se começa no circo é sempre dificil para qualquer um”, nota Radarani. “O mais importante foi perceber o tempo deles, o tempo de reação. A partir daí correu tudo normalmente”, aponta.
A avaliar pela satisfação estampada na face de Rui, Hélder e Pedro, a dificuldade que qualquer um sente quando começa a fazer circo já passou.
“Eu tinha medo das alturas, tinha vertigens mas desde de que comecei deixei de ter”, atira Rui. “Falei com os professores e consegui perder o medo. Agora vou para a roda e não tenho medo”, confessa.
O entusiasmo deste artista não passa despercebido a ninguém. E é com ele que repete que quer que o projeto continue.
O financiamento da candidatura termina este ano mas o INAC já procura novos parceiros. “Estamos a tentar encontrar novos parceiros porque estas candidaturas têm uma data e não têm continuidade. Esse é o nosso grande desafio, agora que já percebemos que é possível fazer coisas muito importantes relativamente às ações publicas”, nota Juliana Moura do INAC.
Para a responsável, este projeto “vem evidenciar a potencialidade que existe em muitos jovens portadores de deficiência” e dar-lhes oportunidade de terem contato com a “cultura artística e perceber como funciona tudo dentro das artes”.
“Acreditamos que este é um primeiro passo para perceberem a importância da criação artística inclusiva”, acrescenta.
Mas, aponta, além do contacto com as artes, o projeto veio permitir que os jovens portadores de deficiência trabalhem a autonomia e também a fala.
O resultado do trabalho de meses pode ser visto no palco do Teatro Narciso Ferreira num espetáculo de “circo inclusivo” inspirado na temática da guerra. “Exploramos toda a atmosfera relacionada com a guerra. O dia a dia que se vive e o que se passa”, refere Carolina Vasconcelos, diretora artística do “Da Purga ao Marfim”.