"North Korea Dance", da sul-coreana Eun-Me Ahn encerra esta sexta-feira, às 21.30 horas, o Festival DDD online.
Corpo do artigo
Pode a dança ser um ato político? A coreógrafa sul coreana Eun-Me Ahn prova que sim. Não há representação mais verdadeira de um povo do que as suas danças tradicionais, aqui pode-se saber tudo sobre a forma como se relaciona, como pensa e quais são os seus grandes anseios.
A Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, fraturou, em 1948, a península coreana em duas regiões, com governos autónomos. Enquanto a zona sul foi tomada como capitalista, de influência americana, a zona norte, tornou-se comunista, de influência soviética. Nenhuma aceitou que a outra fosse o governo legítimo do país. Em 1950, os norte-coreanos, apoiados pelos soviéticos e chineses, invadiram a Coreia do Sul, partindo para um conflito armado durante três anos.
Finda uma época tenebrosa na história, em que morreram quase 1 milhão de militares e foram feridos ou mortos 2 milhões e meio de civis, foi assinado um acordo de separação entre o Norte e o Sul, mas sem nunca haver um tratado de paz entre as duas Coreias, com muitos atos de provocação de parte a parte. Foram necessários 65 anos, até que em abril de 2018, os líderes das duas Coreias , Moon Jae-in e Kim Jong-un, se reunissem na Zona Desmilitarizada e concordassem em trabalhar para assinar um tratado de paz, que encerrasse oficialmente a guerra. O encontro coincidiu com a estreia de "North Korea Dance", de Eun-Me Ahn, em Seul, mas como já explicou várias vezes foi apenas uma feliz coincidência.
Enquanto a Coreia do Sul se manteve aberta e foi bastante contaminada pela influência da dança estrangeira, Eun-Me Ahn é um exemplo disso, sul-coreana, cosmopolita, viveu vários anos em Nova Iorque e era amiga pessoal de Pina Bausch. Tanto abraça a tradição nos seus trabalhos como é capaz de se disfarçar de cogumelo e fazer duetos com uma galinha, em formas inesperadas e emocionantes. Coreana e cosmopolita, figura da vanguarda, intitulada "Pina Bausch da Ásia", foi a coreógrafa da cerimónia oficial de abertura do Campeonato do Mundo FIFA 2002, em Daegu e apresenta-se nos mais importantes festivais internacionais.
Mas, também reside nela a arte do contraste tanto tem um registo extremadamente pop e brincalhão, como consegue facilmente voltar a uma escola de rigor, precisão, exigência e de uma disciplina totalmente coreana. Uma das poucas manifestações culturais da Coreia do Norte mostradas ao exterior, são as danças corais, com grupos gigantescos, típicas dos regimes totalitários, onde não existe o culto da personalidade e não há um movimento individual se não um movimento de massa.
Esta é uma das imagens mais conhecidas da Coreia do Norte, onde nos feriados principais, os alunos das universidades locais vão à praça principal da cidade e dançam vestidos com um hanbok tradicional coreano para as mulheres e um fato para o homens. Eun-Me Ahn fez um levantamento destas danças e com um grupo de dez bailarinos começou uma pesquisa antropológica sobre o que unia as duas Coreias e é neste âmbito de apresenta "North Korea Dance".
A coreógrafa já tinha estado em Portugal com o sensível "Dancing Grandmothers", em 2017 e mostra-nos que a dança pode ser política, social e também pode ser um ato pacificador. Um espetáculo virtuoso e colorido a não perder.