Nascido na escuridão dos bares e bordéis de Buenos Aires, maturado no Mundo, celebrado no seio das elites de Paris, eleito Património Imaterial da Humanidade. O tango é dança, paixão, sensualidade, tristeza e melancolia. É também uma das manifestações mais celebradas, como comprova o sucesso de “Forever tango”.
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O espetáculo de Luís Bravo está de volta a Portugal e sobe ao palco do Coliseu do Porto amanhã e ao Teatro Tivoli de Lisboa entre sexta-feira e domingo.
Para o maestro, que estreou “Forever tango” há mais de 20 anos na Broadway - desde então o espetáculo já lá regressou diversas vezes, acumulando pelo caminho prémios e lotadas digressões mundiais -, o tango é o epítome da paixão e da cultura argentina. “É, provavelmente, a única dança em que se juntam um homem e uma mulher num abraço tão próximo, numa alquimia tão poderosa. Na alquimia que gera vida, porque eles geram vida”, começa por explicar ao JN.
“É por isso que é tão cativante assistir a duas pessoas a dançarem o tango. E porque a música é tão apaixonada, tão melancólica. Ela expressa tantas emoções, de todas as maneiras”, adianta o diretor da produção. Segundo Bravo, “é muito difícil descrever tango na sua plenitude”. “Mas posso definitivamente dizer que nada descreve a Argentina melhor do que o tango. É uma interpretação artística única, da cultura argentina”, explica. “Então, ele tem tudo. É muito colorido, todas as emoções humanas absolutamente expostas, de todas as maneiras.”
Público de milhões
Em “Forever tango”, todas estas emoções humanas, a paixão e a melancolia da dança, ganham movimento através do corpo de 14 bailarinos de excelência, que realizam os passos ao ritmo da voz de um solista. A acompanhar, uma orquestra de 11 peças, onde se destaca o bandoneón, o principal instrumento da orquestra de tango. A par da performance, a produção destaca-se pela estética da dança e cuidado no guarda-roupa, que realça o ritmo e movimento do corpo dos bailarinos, transportando o público para uma época de glamour e elegância que marcou sobretudo a entrada do tango na Europa.
O espetáculo de Luís Bravo já esteve em Portugal em 2017, mas volta agora adaptado e com novos dançarinos. “O espetáculo é uma peça clássica, pelo que o espírito e a essência são os mesmos. Mas traz sempre novas apresentações e vai mudando o elenco, o repertório, novas rotinas, novas coreografias”, adianta o maestro.
Sobre a receção mundial, os prémios, acrescenta: “É-me muito difícil falar do sucesso do espetáculo, porque é-me muito pessoal. E porque eu acho que nós quebrámos todos os recordes. É hoje um dos espetáculos mais bem-sucedidos de sempre. Quase dez milhões de pessoas o viram em todo o Mundo”, lembra.
Um sucesso que não foi totalmente inesperado. “Nunca esperaria que seria um êxito assim, desta dimensão. Mas estava confiante, porque logo de início fui vendo as reações das pessoas de diferentes culturas, do Japão a Itália, do México à Broadway ou ao West End de Londres. Vi a mesma reação em todos os mercados. Então, percebi que tinha de levar o espetáculo a todo o Mundo.”
Em Portugal, a reação e as expectativas são sempre especiais, ou não fossem o tango e fado tão ligados, por diversos fadistas e pela sua essência na melancolia. “Há uma ligação entre os dois, sim, absolutamente. Porque é muito interno. Ambos congregam muitas emoções. O fado é também assim, um pouco doloroso de certa forma”, frisa. E conclui: “Mal posso esperar para chegar a Portugal. Porque o fado é das minhas músicas favoritas e sempre que por lá passo, faço questão de ir ouvir fado. É deslumbrante”.